Appetite For Destruction - Crítica
publicado por Diogo Sequeira

Mil Novecentos e Oitenta e Sete. Assistíamos a um período em que a influência da MTV na chamada cultura de massas, era já determinante, e note-se, não apenas numa escala nacional, mas sim, alargada à fatia do mundo ocidental, ou ocidentalizada. Vive-se um período de efervescência pop, e de redefinição de conteúdos artísticos/sociais. Agora, numa indústria, a caminhar de forma acentuada para o efémero, e numa lógica de consumo desenfreado, a grande e gorda teta do rock n' roll começa a dar os primeiros sinais de esgotamento. Com a banalização dos seus símbolos, com uma absorção já inconsciente por parte da sociedade da sua influência juvenil, e com a expansão do grosso fenómeno música popular, sob novas formas e novos ritmos, apesar de a guitarra e o amplificador nunca terem chegado a caír no desuso, com os excessos vibrantes que o Hair Metal representou durante a década, tal como, o trabalho de expansão, não só em termos sonoros, como visuais e de público tendencial por parte de alguns artistas, o puro e duro Rock (em referência, não só ao som e à forma, mas em relação à temática, principalmente), como nos foi apresentado nos anos 60 com os Rolling Stones, ou com os The Who, e nos anos 70 com os Led Zeppelin ou os Aerosmith, caíu numa descaracterização, e consequentemente, numa associação a um passado pouco distante, em que o raiar de uma nova sociedade global consumista estava em ruptura.

Appetite for Destruction é uma declaração, que por um lado, se integra facilmente na lógica do famoso e glorificado "sonho americano", e que por outro se afirma de forma inglória, e embebida em marginalismos, característicos de um bando de vagabundos dentro de uma luxuriante cidade de Los Angels, a abarrotar de prostitutas e drogas; constituindo até de certa forma, uma homenagem à contracultura do Rock. Cedo, a banda do guitarrista Izzy Stradlin', e do vocalista Axl Rose, ambos naturais de Laffayete (fugiram à procura de uma oportunidade, e o que encontraram à primeira foi uma escala alucinante de decadência) se destacou na zona, e chamando a atenção dos media pelo carisma inegável, pela fusão de tendências punk, blues e rock, e principalmente, pela solução que apresentavam, como potenciais agitadores do panorama musical internacional. Com um baterista brutal, um baixista que trouxe alguma irreverência à banda, e particularmente ao som (Sex Pistols e Ramones estão entre as suas grandes influências) para além da contratação quase ocasional de um guitarrista melódico, situado algures entre o rock n' roll e o blues, que se revelaria um autêntico ícone, e tal como um dos melhores guitarristas de todos os tempos, Guns N' Roses, tornaram-se uma banda obrigatória, e uma protuberância na escala evolutiva do Rock. A sua importância passa essencialmente pela diferença, que em relação à música comercial da altura, se media em primeira instância pela atitude irreverente e extremamente ambiciosa, num mundo de abundância e conformismo. A MTV, que por sua vez traduz uma inteira geração, precisava de um bode expiatório, de uns “meninos maus”, cujas circunstâncias de facto, não os poderiam sequer fazer passar pelo contrário. Surgem como a epítome, e ao mesmo tempo, de forma manipulada, como uma paródia da vida de superstar, e em modo geral, do rock n’ roll. E, não há outro álbum que faça melhor juz a esse mote do que o seu álbum de estreia, por sinal, um dos álbuns mais vendidos de toda a História nos Estados Unidos, e para mim, a par de The Velvet Underground & Nico , o melhor álbum de estreia de sempre.

Muito pouco polido, ruidoso, e a cheirar a garagem. Liricamente, as faixas variam entre contos de horror underground, pornografia, e uma excepção (Sweet Child O’Mine, uma canção harmoniosa e simplesmente bela sobre Axl e a sua namorada da altura) que se tornou um autêntico hino para o resto da história da música pop, e que, tal como Welcome To The Jungle (a selvagem e significante entrada do álbum) ao entrarem nos tops Billboard, revolucionaram o cenário musical. Música após música, o festival rock n’ roll continua sem dar tréguas, tendo com grandes destaques, para além dos dois singles já referidos (talvez as duas músicas mais famosas da banda norte-americana), a terceira faixa, Nightrain (uma música que segundo o guitarrista solo Slash, fala apenas de um passeio no parque, mas que está preenchida com alusões sexuais e a embriagez ou sofreguidão); a sexta, Paradise City, que acabou por se ter tornado o terceiro single do álbum (quase sete minutos que se auto destroem no seio dos riffs da fantástica parelha de guitarras, que tanto executam simples e melódico, como Slash explode duas vezes em solos espantosos. É uma faixa clássica sobre redenção, ao mesmo tempo que se sustêm numa declamação realista sobre o obscuro citadino.); e finalmente, a décima segunda faixa, Rocket Queen (possui um dos riffs mais orgânicos e viciantes do álbum, tal um verso solo espantoso. Para além da excelente composição e do solo de guitarra. É explicitamente sobre relações sexuais, até ao momento final do álbum e da música em, que se transforma numa declaração sentimental).

O som da banda, baseia-se na parelha de guitarras fortíssima e no seu pleno entendimento, em que Izzy Stradlin (guitarrista rítmico/base, em que o seu mérito vai muito para além da interpretação, visto que está envolvido em quase todas as composições, e acredita-se que, mesmo sem estar creditado foi a mente criativa que originou o álbum quase todo dentro da sua cabeça) e Slash (que dispensa apresentações. Para além do excelente intérprete e bom compositor, epitomizou o espírito e a imagem da banda), fazem lembrar tanto Joe Perry e Brad Whitford dos Aerosmith, como Angus e Malcom Young dos AC/DC. Outra característica fundamental, é o vocal estridente na linha da autêntica definição que foi Robert Plant, executado pelo vocalista, Axl Rose, enérgico, levado da breca, e sumariamente, quer em palco como fora dele, um dos maiores frontmen da história do rock, e um dos últimos mitos da música.

Appetite for Destruction, é sem sobra de dúvidas o melhor álbum da banda (aquele que os colocou praticamente sozinho no super estrelato, e aquele pelo qual no seio da crítica continuam a ser reconhecidos e lembrados). Contagiante e surpreendentemente (felizmente, também) descontextualizado, conseguiu afirmar-se como um dos acontecimentos fundamentais dos anos oitenta, e um dos melhores discos da década. Vendeu mais de 25 milhões de cópias, e integra um grupo selecto de álbuns, que vocês sabem… não tocam, flúem em qualquer leitor. Aproveitem, porque provavelmente, nem Chinese Democracy vai ser tão bom quanto este.

Ficha Técnica do Àlbum:

Appetite For Destruction (LP)
Lançado a: 7 de Julho de 1987
Género: Hard Rock
Editora: Geffen
Produtor: Mike Clink




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Blogger Diogo Sequeira: Boas à malta. Sou o Nitro, antigo membro da blogoesfera de wrestling portuguesa (fui colaborador no X Booker e no Galáxia Wrestling), e já devo ser conhecido da maior parte de vós. O convite foi feito pelo Skywriter, aceitei, como bom ouvinte que sou, e como apaixonado por qualquer forma de arte. Podem contar com algumas críticas minhas a alguns dos meus álbuns favoritos, não sei eu se todas as semanas, mas vou fazer por isso. Espero que gostem, e sintam-se à vontade para comentar e trocar ideias. Abraços [] 03/06/07, 12:08  

Anonymous Anónimo: Tão bom que é ler-te de novo meu! Quanto ao album até foste tu que me-o enviaste não foi? Foi foi lol, tal como dizes as duas mais famosas da banda (a par de November Rain, não é?) são quase que obrigatoriamente as minhas preferidas, Welcome to the Jungle, Sweet Child O'Mine e Paradise City são para mim as melhores deste albúm... obrigado por voltares meu =) 03/06/07, 12:33  

Anonymous Anónimo: Eu sei que cai tudo em cima de mim quando digo isto, mas dos Guns só gosto duma coisa: Estão zombies!
Perderam o elemento mais importante a para Asshole...err...Axl Rose, o Slash, e com isso o simbolismo da banda. Sem o Slash a banda está em estado zombie, não tendo acabado nem faz nada...

Como já devem ter reparado, não gosto dos Guns, apesar de serem 1000x melhores do que pessoas como o Santana ou Leds... ao menos gosto do Sweet Child O' Mine...

A crítica esteve muito bem, pelo ponto de vista de quem é fã tens toda a razão e se as tuas "reviews" forem todas assim, tens cliente! 03/06/07, 19:37  

Blogger Lex: Boa análise, independentemente de ser de alguém que gosta do álbum.

Pessoalmente, tenho-o entre os melhores dentro do género, embora não seja CD que ouça regularmente. Mas já ouvi, e muito. Está mais rodadinho que a Cicciolina. :-D Bom, que a Cicciolina não - esse será o Black album dos Metallica - mas vá: o Appetite está tão rodado na minha aparelhagem quanto a Paris Hilton, o que já não é dizer pouco.

Uma das coisas que eu acho que caracteriza um bom álbum é a capacidade que as suas músicas têm de resistir ao passar do tempo. Se ainda as conseguimos ouvir sem nos cansarmos ao fim de 20 anos, é bom sinal. E isso acontece com este álbum dos Guns.
Concordo que os Guns n' Roses já não existem há muito tempo, e que o lodo que o Axl tenta fazer passar como sendo a banda que todos conhecemos é no mínimo uma tentativa patética de enganar o Zé.
Mas que eles estiveram em grande neste Appetite, ninguém pode negar. Não terá tido a mesma mediatização que os dois Use Your Illusion (após os quais tudo acabou), mas foi o início de uma carreira que podia durar até hoje com o mesmo brilho... se apenas o tivessem desejado.

Enfim, mágoas ultrapassadas, fiquemos com o seu legado.

Boa crónica, volta sempre. 05/06/07, 15:02  

Blogger Diogo Sequeira: Boas, e antes de mais obrigado pelos comentarios.

Estamos em concordancia em muito Lex, mas em relação a continuadade da banda tenho algumas coisas a dizer. Penso que um final a curto prazo lhes estava destinado, devido ao comportamento extremo e auto destrutivo que sempre assumiram (Appetite for destruction). Apesar de nao serem os unicos nem os primeiros no mundo do rock, tal como li algures " (...) dentro de trapos e encharcados em drogas, eram os rolling stones e os sex pistols num so", e acho que a frase fiz muito. Apesar da logica de irmandade que sempre se preocuparam em fazer transparecer, sempre houveram conflitos internos dentro da banda (Spaggheti incident, lol) tal como as diferentes influencias e ambicoes de cada membro, que acho que sempre foram argumentos que sustantassem uma separacao.

Quanto ao estado actual da banda, concordo com o facto de ser imbecil essa tentativa obesa de alimentar o saudusismo dos fas hardcore em relacao a velha banda... Axl, esta em baixo de forma, e apesar de acompanhado de alguns excelentes musicos, ali nao ha banda. No entanto, para um album que ja conta com 10 anos de producção, e se conta como um dos mais caros de sempre, penso que ha razoes para esperarmos um resultado positivo. Mas dai, continuo na minha... Appetite e Appetite, e por mais que me surpreenda o novo album, nao tem como o ultrapassar em consideracao e valor.

Abraços, e contem com uma critica nova no domingo ! 05/06/07, 19:13  

Blogger Floyd: Appetite for Destruction é o melhor album dos Guns, e provavelmente o melhor dos últimas décadas (poupem-me a Neverminds e afins xD).

É, também, um album que assume uma forte dimensão pessoal, sendo que, se tivesse de escolher um album que me introduziu á obsessão pela música que presentemente carrego comigo, seria este mesmo. Tal como disseste, um album "ruidoso, e a cheirar a garagem", a encaixar perfeitamente na atitude selvagem e desenfreada da banda. A entrada de Welcome to the Jungle ou o riff de Sweet Child o' Mine deixa qualquer um alternado.

Quanto ao melhor album de estreia, pondo de parte o mediatismo, consideraria fortemente o primeiro dos Doors, The Piper at the Gates of Dawn (Pink Floyd) ou Ten (Pearl Jam). Mas Appetite for Destruction tem um lugar muito importante no meu gosto pessoal.

Boa crónica, até á próxima. 05/06/07, 20:37  

Blogger Talionis: Olha quem ele é! E que bem sabe ver-te por estes lados ;)

É sempre um prazer ler o que escreves, pelos vistos independentemente do tema.
Quanto ao Appetite não é um album que me diga muito, mas é inegável que é um marco importante, não só da banda, mas do género.

Fico à espera de mais ;) 06/06/07, 01:40  

Blogger L I O N H E A R T: confesso que ler um texto do senhor nitro é um prazer, seja em qualquer formato, sobre qualquer tema, em qualquer blog...por isso agradeço ao Sky por ter posto este senhor de volta na blogosfera mais mainstream, se é que assim lhe podemos chamar... 06/06/07, 02:14  

Anonymous Anónimo: Ora, Obrigado.

Domingo à mais ;) 06/06/07, 14:02  

Blogger Aza Delta: Boa crónica.

Quanto ao AFD, as minhas preferidas são a Rocket Queen, Paradise City e Nightrain.

O segundo melhor album dos Guns, é também incontestavelmente, o UYI I. O II é muito fraquinho, na minha opinião.
Quanto ao Chinese Democracy, tinha condições para disputar o 3º lugar com o Lies, mas o Axl Rose anda a pôr produção a mais nas músicas... 06/06/07, 14:19  

Blogger ZePedro: Mas alguém dúvida da magnitude deste albúm? Até eu que não sou um fã de "Guns and Roses" não posso negar...Tal como o senhor Nitro disse este album colocou os Guns, no estrelato, como seu som puro e duro! Welcome to the Jungle! 12/09/07, 15:14  

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