... and Metal for all: filhos dos Fiordes
publicado por Lex

"Poderosos". "Geniais". "Comerciais". "Vendidos".

Em qual destes adjectivos pensam vocês quando se vos fala de Dimmu Borgir
?


Nome maior do Black Metal norueguês, já andam aí a dar cartas desde 1993. Não são propriamente uns novatos, e talvez por isso o público que tem crescido com eles é cada vez mais exigente. Foram a primeira banda do género a alcançar o primeiro lugar no Top de vendas do seu país - ou de qualquer país do mundo, aliás – com o seu último trabalho de originais, "In Sorte Diaboli", lançado em Abril passado. Isso valeu-lhes a acusação de ‘vendidos’ por entre muitos dos seus primeiros fans, e a de ‘comerciais’ veio por arrasto, por alegadamente se terem rendido a composições fáceis, letras banais e riffs instantâneos.
Não quero crer que sou eu que tenho uma maneira muito própria de ver o mundo da música. Para mim ele é um todo abrangente, que inclui desde o pop ao hip-hop, da clássica ao Metal, e por isso não consigo perceber muito bem como é que se aplica o conceito de ‘comercial’ a uma banda de Black Metal. Repito: estamos a falar de Metal. Black, ainda por cima. É que se é pelo volume de vendas, qualquer banda do género fica a anos-luz dos milhentos e pululantes "[inserir aqui o prefixo da vossa preferência]pops" que por aí andam e que, esses sim, vendem que nem ginjas onde quer que seja. Mas isto é uma divagação que dava uma discussão áparte, só por si - um tema interessante talvez para outra altura. Para já, vamos ao que me traz aqui hoje.

Não conheço Dimmu Borgir há tanto tempo como desejaria, mas enfim, nunca é tarde para uma pessoa se aventurar a descobrir música e bandas novas. Só tomei contacto com eles por altura do anterior álbum de originais, o "Death Cult Armageddon", de 2003 (não estou a considerar a re-edição do Stormblast como álbum novo propositadamente), e desde então não saem das minhas playlists. Aquela "Progenies of the Great Apocalypse" é coisa para agarrar de imediato qualquer fan 'desprevenido' do género. Depois procurei o anterior material deles e o sentido da evolução é óbvio: dos mais 'simples' e monocórdicos guturais rasgados passaram para uma combinação (excelente) da voz limpa e quase lírica do Vortex com um Shagrath ainda gutural, mas mais elaborado; de uma bateria quase básica (para o género) para uma marcação rítmica com princípio, meio e fim em cada música... E os teclados, cada vez mais cuidados e marcantes nas composições. Mas todos estes avanços não se fizeram sentir só neste álbum. Têm vindo a evoluir a cada trabalho, e agora 'apenas' atingiram um pico de qualidade.
Foi com bastante expectativa que aguardei o "In Sorte Diaboli", e foi com um prazer maior ainda que o recebi. Neste momento, a escassos meses que estamos do fim do ano, é o meu candidato mais forte a melhor álbum de 2007. Eu quero lá saber se os riffs são de compreensão fácil; também pouco me interessa se as letras são banais. Só sei que me dá aquilo de que eu mais gosto no Metal. Estão a ver aquelas cenas do filme "O Perfume" em que os diferentes aromas 'levam' as personagens para determinados sítios na sua mente? É mais ou menos esse o efeito que os bons álbuns têm em mim: 'levam-me' para um concerto, para a frente do palco, para o meio dos músicos. Para a adrenalina. E este álbum tem, definitivamente, esse efeito.


Para o seu oitavo registo de originais, a banda fez algo de novo na sua carreira: um álbum conceptual. Em outras palavras (para quem não esteja muito familiarizado com o termo), todas as faixas estão relacionadas e são partes de uma mesma história que nos é contada. Para primeira vez, digo eu que a experiência resultou às mil maravilhas.
Temos perante nós um simples acólito dos tempos medievais que nos relata, na forma de um diário pessoal, o seu percurso desde a revelação que o impele a questionar os ensinamentos religiosos que lhe foram incutidos desde sempre, até acabar por rejeitar a igreja e qualquer ideia de Deus e abraçar o lado negro, alcançando finalmente a paz de espírito. Assunto batido? Não digo que não, até porque martelar na religião instituída é o desporto favorito de qualquer banda de BM que se preze. Mas mesmo assim, vale pela maneira encontrada para contar a história.
Mais ainda: tudo indica que este seja apenas o primeiro de uma trilogia de álbuns conceptuais, a lançar em seguida. Venham eles.
Mas o ponto mais forte aqui é mesmo a potência sonora. Aqui está uma fusão perfeita entre a melodia de uma orquestra e a agressividade do Black Metal. Se era grandiosidade que eles queriam, foi mesmo isso que conseguiram. Com este álbum, os Dimmu põem-nos diante de uma produção de escala épica e Hollywoodesca (ouvidos mais atentos conseguirão detectar fortes influências "John Williams'ianas" na abertura da "The Serpentine Offering"). Ora, como eu consigo perfeitamente arranjar espaço nas minhas preferências para esse tipo de atitude... gostei. Gostei mesmo muito. Às vezes precisamos de músicas assim, que nos levantem o espírito.

Única nota negativa: três edições diferentes, com três músicas de bónus diferentes... Não é estratégia que me agrade muito, mas compreendo. :-P

Bónus da edição americana: "The Heretic Hammer"
Bónus da edição europeia:
"The Ancestral Fever"
Bónus da edição japonesa:
"Black Metal" (cover de Venom)


Há ainda outro aspecto bastante importante num álbum: o grafismo. Sim, porque ninguém negue que os olhos também comem - ou neste caso, também ouvem.
Confesso que a primeira vez que me mostraram a capa o entusiasmo não foi muito: "Que caraças, mais uns a trazerem o Baphomet ao barulho? Não chega, já?" Nos últimos tempos eu tinha visto muitas capas recentes com o mesmo tema: Filii Nigrantium Infernalium, Belphegor, e por aí fora... Mas este revelou-se um design que acabou por ser bem aceite com o tempo, muito graças à sua relação com as músicas e o tema. De autoria de Joachim Luetke (que também é o artista por detrás da artwork do "Doomsday Machine", de Arch Enemy, e da do "Enemy of God" dos Kreator -
http://www.luetke.com/dimmu_flash/book.html) - toda a artwork demonstra um cuidado que até agora não tinha havido nos álbuns de Dimmu. Dêem uma olhadela nesse link acima, e percam algum tempo a explorar os detalhes da capa. Há que realçar a edição especial que (para além de um DVD com alguns extras) traz o booklet com as letras invertidas, e que por isso vem acompanhado por um espelho. Todo o trabalho gráfico tem acabamento mate, e os próprios discos parecem veludo ao toque. Isto são pequenas coisas que fazem grandes obras, parecendo que não. Como já dizia o outro, "o diabo está nos detalhes". Ou no caso, Baphomet.

Versão censurada da capa, para o lançamento nos EUA. Acho que eles não gostam de camponeses nem de peitos de... cabra.

Já agora, uma curiosidade que talvez muitos não saibam, a propósito do tal espelho: a associação fonográfica inglesa (ou entidade equivalente) baniu este álbum dos Tops britânicos por duas vezes numa semana, uma delas devido à presença desse espelho. A outra vez prendeu-se com um flyer incluído na caixa do CD que publicitava uma competição para ganhar entradas para um meet 'n' greet com a banda, válida para quem tivesse o álbum. Ainda há quem negue que existe preconceito em relação ao Metal? :-D


"The Serpentine Offering", primeiro single extraído do álbum. Um vídeo com uma produção cuidada e um resultado muito bom, cujo making of podemos ver nos extras da edição especial do álbum.

http://www.findinternettv.com/Video,item,1059567187.aspx - Segundo vídeo, lançado recentemente: "The Sacrilegious Scorn". Nada de YouTube: a editora reclamou e foi retirado. (I)Legalidades...
Este vídeo é bastante... kitsch. Está lá tudo aquilo que nos habituámos a relacionar com bandas deste género: os gestos exagerados, as caras de mau de matar a rir (especial atenção à cara do Vortex depois de passar tempos infinitos a apontar para a cruz :-D), os pentagramas e as cruzes invertidas, etc. Só que... Dimmu podem dar-se ao luxo de fazer um vídeo assim.

Altura agora de esclarecer uma eventual dúvida: se o álbum saiu já em Abril, por que raio estou eu aqui a falar dele em Outubro? Por duas razões: a primeira, porque o sacana é mesmo muito bom (não sei se já o tinha dado a entender...), e a segunda, porque a banda vai dar um concerto brutal no Coliseu dos Recreios no dia 9, próxima terça-feira. Não quis estar aqui a fazer uma biografia da banda, e também não me quis restringir a fazer uma crítica ao álbum. Prefiro misturar tudo isso com reflexões pessoais. A ver se resulta. :-)

Ora, como me será impossível estar presente nesse concerto, esta é - isso sim - a minha maneira de lhes prestar uma singela homenagem.

Um pedido a quem for: não deixem pedra sobre pedra naquela sala. Eles merecem.

http://www.myspace.com/dimmuborgir

http://www.dimmu-borgir.com/

\m/

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Anonymous Anónimo: Bem,
Confesso que não sou nada adepto de Black, Death, Dark, whatever Metal.

Ao contrário de ti, prefiro as vozes melódicas :P

No entanto, é um bom post, e para quem gosta do género ainda melhor ;)

Continua.
Cumprimentos. 05/10/07, 23:42  

Blogger Diogo Sequeira: Sinceramente, nunca fui fã de Dimmu Borgir. Produzem boa música, e ultimamente, têem conquistado uma posição previlegiada no panorama musical, como tu referiste e muito bem. Para além de algumas faixas soltas, ouvi o "Death Cult Armaggedon", e guardei um sentido muito forte de experimentação, quer do ponto de vista melódico, quer progressivo.

É uma absoluta bizantinice, para não dizer pior, a mentalidade norueguesa associada ao sector do metal extremo, que ser quer monocórdico e isolado de qualquer movimento ou qualquer progressão universal, quer a nível musical, quer a nível técnico (muito importante a meu ver. o pseudo inner-cicle de hoje em dia ainda defende uma realidade hermética e elistista fechada em condições de má gravação, intencional, para não falar da temática, que nos termos já antológicos da explosão da cena Black, se torna saturante aos olhos de um não-fanático, musical e culturalmente falando...)

Dimmu Borgir, têem inovado como "noruegueses de gema", e como banda saída do típico undeground em questão. As forças motrizes ideológicas do Black Metal estão lá. O nacionalismo, apesar de esbatido, continua presente, e diga-se passagem, sublimemente presente, através da exploração folk dentro de padrões musicais, coisa que muitas coqueluches desmioladas não o fazem... Respeito, acima delas, a nova lógica de abertura cultural, que nem por isso deixa de ser restrita, tal como a evolução num sentido plural da música, e da sua "limpeza". Conheço muito melhor, outros noruegueses, os Satyricon, que também têem dado polémica, mas que paradoxalmente quanto aos seus primeiros trabalhos, conceptualmente semelhantes, foram apoiados de forma totalmente diferente, fundamentada em meras razões logísticas e comerciais...

É o velho diálogo de sempre entre o popular e o não popular, e mais que isso, a meu ver, um questionamento fechado sobre os limites e as implicações, que não musicais, do "popular" e do "comercial"...

Bom post. Cumprimentos 06/10/07, 00:23  

Blogger ZePedro: nem me vou alongar muito, simplesmente espectacular! 06/10/07, 09:59  

Anonymous Anónimo: é cm diz o guitar, espectacular! eu nem sou muito fan dos dimmu, prefiro os cradle of filth, mas da maneira como falaste deste album, é impossível não suscitar o bichinho e a curiosidade!

vou sacar e depois digo alguma coisa! 06/10/07, 13:59  

Blogger Lex: Obrigados. :-)

Diogo: bem falado. Pessoalmente recuso-me a acreditar que esse hermetismo seja o futuro desejável para o BM. Mas existe de facto um fundamentalismo a esse respeito que poderia ser perigoso, não fossem bandas como Dimmu insistirem em inovar. E isto tanto se passa no black Metal como noutros géneros. Em todos há quem esteja lá para defender que a música deveria permanecer inalterada desde há 20 anos.
Falaste na questão de haver quem defenda que até as condições de gravação devem permanecer más (e ignorar portanto os avanços tecnológicos) para se manter o espírito verdadeiro do Metal. Ainda há pouco tempo eu assistia a uma discussão a propósito do novo de Moonspell, "Under Satanae", e batiam mesmo nesse ponto. :-)
Atitudes... Eu não partilho dessas opiniões, mas até sou capaz de entender o porquê da sua defesa: o eterno espírito do velho do Restelo. O que é novo é mau - a menos que venha disfarçado de velho. Para mim, desde que a música permaneça reconhecível, que se inove, sim senhor.

Anónimo: é curioso falares em Cradle. Também são uma das minhas bandas de eleição, e também eles têm procurado um caminho diferente dentro do Metal que praticam. :-) E também a eles essa atitude tem valido muitos 'inimigos'. 06/10/07, 15:46  

Blogger Petrvs: Lex, discordando de ti, gosto de muito black metal mas dimmu borgir e cradle of filth, embora já tenha ouvido, são as duas bandas que não suporto dentro do estilo. Nessas duas bandas acho tudo muito base e muito fácil, para mim black metal tem piada é com todo o misticismo que o envolve e as letras de dimmu e cradle são muito fáceis para todo o tipo de fans. É apenas uma opinião.

Se estás mesmo interessado em ouvir black metal, aconselho, não tens nada a perder ;), ouve bandas como:

-Mayhem, Des mysteriis dom Sathanas - o albúm está brutal, só não gosto muito da voz;

-Gorgoroth, Incipit Satan - esse álbum também está brutal, vocais sempre espantosos, do gaahl é sempre de esperar : );

-Immortal, Sons of Northern Darkness - também um álbum bastante bom no meu ponto de vista, riffs brutais e a voz do Abbath não engana.

Estas 3's bandas são as minhas bandas de referencia dentro do BM, mas é apenas uma opinião, ouve, depois logo vês ; )

De resto achei um bom post... continua...

Só uma dica, procura falar de metal menos "comercial" mais desconhecido, o pessoal ( ou pelo menos eu ) gosta de conhecer sonoridades novas. 06/10/07, 22:15  

Blogger Sea B. A.K.A. Timba: Boa posta. Apesar de não ser grande fã de Black Metal Dimmu Borgir foi (quase sempre) desde há +/- três atrás uma banda que eu tenho seguido com algum interesse (Muito ao contrário de Cradle) mas, ao contrário de ti não achei este album assim tão grande espingarda mas, não deixa de ser um bom album.

Quanto ao assunto do BM prefiro bandas como Rotting Christ, Marduk e Mayhem mas, duvido muito que não as conheças portanto nem me vou prolongar muito.

P.S.: É engraçado utilizares esse argumento de Hollywood de uma forma apreciativa até agora qualquer que fosse a comparação entre Hollywood e Dimmu Borgir era sempre num tom depreciativo

P.S.2 (Este é só mesmo para de fazer inveja): Eu vou ver Dimmu Borgir e os Grandiosos Amon Amarth 07/10/07, 00:21  

Blogger Diogo Sequeira: Eu também vou estar presente. Amon Amarth levam-me lá em primeira mão. Agora Lex... penso que estamos em concordância quase absoluta. Cradle Of Filth produziram música bastante boa, mas entretanto o filão esgotou, e não me fazem vibrar, um pouco como os Dimmu, apesar de defender que são casos completamente diferentes. Oiço os primeiros de Mayhem, algum Marduk e algum Carpathian Forest, tal como o extraordinário e não menos polémico Varg Vikerns e o seu projecto pessoal, Burzum. Recomendo a qualquer um, apesar de ser discutível a própria classificação da música enquanto Black Metal.

Abraços 07/10/07, 02:22  

Blogger Lex: Petrvs: o nome da crónica é "... and Metal for all" porque o meu objectivo é precisamente abranger um espectro mais alargado do Metal. Mas isso implica falar também de bandas mais underground. Elas virão. ;-) Obrigada pelo comment e pelas sugestões. Hei-de lhes dar uma ouvidela. Há muita banda por aí que ainda só conheço de nome, mas como gosto de levar o meu tempo para as descobrir, isto vai indo devagarinho... :-D

"P.S.: É engraçado utilizares esse argumento de Hollywood de uma forma apreciativa até agora qualquer que fosse a comparação entre Hollywood e Dimmu Borgir era sempre num tom depreciativo"
Tens razão, Pedro. Já li muitas críticas ao álbum ao longo destes meses, e a maior parte tinha isso como um ponto a seu desfavor. Só que... eu limito-me a deixar-me ir com o sentimento que as músicas me provocam. Não pretendo instaurar verdades absolutas, o meu objectivo é bem mais simples que isso. :-D Apenas deixar a minha opinião e, na melhor das hipóteses, despertar algum interesse pelo objecto em causa nas pessoas, para que o oiçam, vejam, e o julguem por si mesmas.

Agradeço o feedback de todos. 07/10/07, 03:14  

Blogger Talionis: Nem imaginas o quanto me dói não poder ir vê-los agora, apesar de desconhecer a qualidade deles em palco (em comparação por exemplo com uns Cradle).

Acho este album simplesmente fabuloso. Viciante do início ao fim, as composições são poderosíssimas. Não posso dizer que sou fan de Dimmu Borgir (ou Dimmu Burger :D Dethklok FTW), já que o passado deles nem sempre me cativou; mas sou sim fan do In Sorte Diaboli. E quem sabe, possa ser uma porta para conhecer melhor a banda...

Este é um artigo de nível profissional, não sei se tens noção disso. Opiniões à parte (porque é sempre um artigo de opinião), é bastante superior à grande maioria do que tenho lido na dita imprensa especializada. Digo-o com toda a sinceridade. 09/10/07, 00:22  

Anonymous Anónimo: Desculpa la lex, mas es rapariga ou rapaz?

grande texto, apesar de detestar o estilo :P 09/10/07, 19:08  

Blogger Lex: Anónimo: não é óbvio? O.o 09/10/07, 22:40  

Blogger Sea B. A.K.A. Timba: Acabado de chegar do concerto de dimmu só tenho uma coisa a dizer:

HOLY SHIT!!! 10/10/07, 00:26  

Blogger Diogo Sequeira: Noite Espectacular. Aguardem por texto meu sobre o assunto ;) 10/10/07, 14:23  

Blogger Talionis: Bah, vão fazer inveja lá para... os fiordes, ou coisa do género :( 11/10/07, 00:05  

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