... and Metal for All: Under Satanæ
publicado por Lex

Esta era uma crónica inevitável. Mais cedo ou mais tarde eu tinha que falar sobre esta banda.
Não os venero, nem idolatro nem nada do género - isso servirá talvez a outro tipo de entidades - mas a música enfeitiça-me, admiro-os pelas escolhas feitas ao longo da carreira e pela sua evolução, e acolho-os na minha discografia sem reservas. São das poucas bandas cujos álbuns eu compraria às cegas, se preciso fosse. É um pouco como os filmes do Quentin Tarantino: não preciso saber do que tratam para os ir ver ao cinema, porque o risco de desilusão é mínimo. Com os Moonspell as coisas não serão assim tão garantidas porque a cada álbum eles inovam e afinam um pouco a direcção, desiludindo uma porção dos seus fãs, contentando outra, e ganhando novos admiradores. Tem sido sempre assim ao longo de toda a sua carreira, e apesar disso nunca aguardo um novo trabalho com receio ou apreensão, mas sempre com confiança.

Mas não é sobre os Moonspell em si que venho falar. Sobre a carreira, a discografia e os membros (passados e presentes) há bastante informação disponível, ao alcance de um Google. O motivo que os traz aqui à baila esta semana prende-se com o lançamento do seu último álbum, "Under Satanæ", no passado dia 15.
Não é fácil comentar este álbum - aliás, não é fácil comentar esta banda, porque nem sempre consigo a isenção necessária a um discurso relativamente objectivo, mas como isto também não é nenhum exercício jornalístico, não é problema que me tire o sono. Como dizia, não é fácil tecer comentários a um álbum que poderia facilmente ser sintetizado numa só palavra: BRUTAL. No entanto, como esse é um termo que já vai caindo na banalidade, e porque acho que a obra em causa é merecedora de mais alguma reflexão, vamos a isto.

Importa primeiro saber ao certo do que trata este lançamento, porque não é propriamente uma coisa nova, no sentido a que estamos mais acostumados.
"Under Satanæ" é a re-gravação de todo o trabalho anterior ao "
Wolfheart", álbum de viragem na carreira dos Moonspell. Aqui se encontram reunidos e remasterizados os temas de "Under the Moonspell" (1994), da demo "Anno Satanæ" (1993) e "Serpent Angel" (1992) - quando ainda se chamavam Morbid God e eram uns putos imberbes a iniciar uma carreira que talvez nunca adivinhassem tão promissora.
Músicas antigas vêm agora a público com novas roupagens, sem no entanto perderem a essência e a magia originais. É um caso de sucesso da utilização das novas tecnologias hoje disponíveis: pôde-se finalmente arrancar ao som todo o potencial que tinha para dar e que as gravações da altura não permitiam pôr em práctica, pôde-se limpá-lo de imperfeições técnicas, e para além disso também os músicos puderam re-interpretar os temas de um ponto de vista já mais amadurecido pelo passar do tempo e pelas experiências vividas na banda.
Somos presenteados com uma bateria mais potente do que nunca; por uma voz num registo mais diabólico e visceral do que no "Memorial" (fazendo lembrar os saudosos tempos de Langsuyar nos Daemonarch); por um baixo que, estando agora brilhantemente entregue a Don Aires Pereira (merecida e finalmente integrado no alinhamento oficial da banda desde o "Antidote"), se revela ainda mais 'metaleiro' do que o original; e por guitarras cuja evolução, tanto técnica como emocional (se assim o posso dizer), desde os 'longínquos' anos 90 é evidente.
Um aspecto notável é a unificação conseguida entre músicas de três fases diferentes da banda, cerzidas entre si de tal modo que quem não souber desse faseamento pode perfeitamente pensar que pertencem todas ao mesmo álbum. As faixas instrumentais desempenham um papel essencial nessa ligação.

Tracklist:

01. Halla Alle Halla Al Rabka Halla
02.
Tenebrarum Oratorium I
03. Interludium/Incantatum
04. Tenebrarum Oratorium II
05.
Opus Diabolicum
06. Chorai Lusitânia!
07.
Goat On Fire
08. Ancient Winter Goddess
09. Wolves From the Fog
10. Serpent Angel

Ficam também aqui os vídeos de duas das músicas revisitadas neste álbum, tocadas ao vivo há muito, muito tempo. Para além da nostalgia, tem sempre alguma piada ver este pessoal com uns 15 anos a menos. :-D


- "Serpent Angel", 1992, Brandoa.

- "Goat on Fire", 1993, Charneca do Lumiar.


Outro aspecto que gosto sempre de lembrar acerca dos álbuns é o grafismo. O booklet é um poster desdobrável cujo design é uma variação do original do "Under the Moonspell", como boa re-edição que é, mas com um tratamento mais cartoonesco. A mim agrada-me, confesso. Não será tão negra e obscura como antes, mas nem tudo o tem que ser obrigatoriamente. Se isto é um renascer, então que haja luz.


Algumas críticas foram levantadas numa questão pertinente: faz sentido 'lavar a cara' a temas que conquistaram o seu lugar nas preferências dos fãs, apesar do (ou devido ao) carácter crú e básico que tinham na altura?
Eu acho que faz. Faz todo o sentido do mundo querer dar-se a devida dignidade a músicas que se estimam e que na época não puderam beneficiar de um melhor tratamento, por falta de condições técnicas. As gravações antigas não desaparecerão, esta re-edição não as vai apagar, de modo que quem quiser matar saudades do tempo da inocência pode fazê-lo na mesma.
Mas para mim este "Under Satanæ" ganha ainda noutro aspecto para além do técnico: revelou-se um óptimo termo de comparação para se avaliar a evolução da banda a todos os níveis. É uma espécie de balanço ao fim de 15 anos de carreira. Mutas vezes dei por mim a pensar: "Se estes gajos tivessem feito hoje o seu primeiro álbum, será que resultaria muito diferente?" Isto aplicado a uns Metallica, por exemplo, ou a uns Maiden. Achava eu que seria algo interessante de se ouvir, e eis que os Moonspell o fizeram agora.
Acredito também que o que a banda quis fazer (mais ou menos conscientemente) foi descobrir o que é que se ganharia e/ou perderia com uma re-interpretação das suas primeiras músicas, e saberem como as sentem hoje em dia - o que daria logo à partida, no mínimo dos mínimos, um exercício interessantíssimo. E acho que não perderam nada de muito importante ou que não possa ser resgatado por quem queira. Como disse antes, as versões antigas continuam aí, enquanto que as novas passam a constituir uma mais-valia no panorama do Metal nacional. Porque quer se queira quer não, goste-se ou não da banda, e apesar da qualidade de imensas outras bandas que por aí andam, há que convir que são os Moonspell quem tem, neste momento, maior visibilidade tanto cá dentro como no estrangeiro. E por mérito do próprio trabalho e profissionalismo, ao contrário do que muita gente poderá pensar. Se as presenças deste ano no Tuska ou no Wacken não servirem de prova de tal facto, não sei o que servirá.
Em conclusão, este "Under Satanæ" merece no mínimo uma audição, goste-se mais ou menos da banda. Os que já gostam não precisarão de muita persuasão para elegerem este álbum como um dos melhores do ano; os que gostam menos terão aqui uma possibilidade de redescobrir os Moonspell, num registo passível de ser considerado mais duro do que aquele que tem sido mais conhecido ultimamente com os últimos trabalhos. Acho que é um álbum susceptível de ser apreciado de pontos de vista diferentes e de agradar a gente diferente. Ou não tivesse entrado directamente para o 12º lugar da tabela de vendas nacional. Tendo que competir directamente com Chiquititas, Avô Cantigas e afins, há que convir que é obra.


No próximo dia 31 o álbum será oficialmente apresentado ao público que comparecer no Coliseu dos Recreios (Lisboa), num concerto único que celebrará assim um Halloween muito especial. Os Moonspell far-se-ão acompanhar dos veteranos
Root (cujo vocalista e fundador, 'Big Boss' Valter, tem uma participação na faixa "At the Image of Pain", do anterior álbum, "Memorial"), e dos Kalashnikov. Sim, esses mesmos, os do Jel, dos cenários de guerra e de músicas já míticas como "Warriors of Hezbollah" ou "Tiananmen Tiananmen". Se estes últimos estão bem ou mal encaixados no cartaz é uma questão discutível, mas quanto a mim não me fazem grande espécie e gostava bem de os poder ver ao vivo, ainda que num espírito apenas jocoso. De qualquer modo, trata-se de uma oportunidade única de ouvir o "Under Satanæ" ao vivo na íntegra e de matar saudades de temas deixados para trás nas setlists há já muitos anos. Anos demais, quanto a mim.

Portanto, caríssimos, toca a encher o Coliseu (onde mais uma vez, por motivos profissionais e para grande pena minha, não poderei estar presente) e apreciar esta oportunidade de ouvir todo o "Under Satanæ" ao vivo. Primeira e última vez. O bilhete não está caro para o cartaz que é (18 a 20€, dependendo do lugar) e são prometidas actividades pós-concerto, tanto no Coliseu como no Hard Rock Cafe.
Para quem não puder estar presente fisicamente, o espectáculo será transmitido online, no portal
IOL. Valha-me isso. :-)

http://www.moonspellcoliseu.com/ - Microsite do concerto, onde entre outras coisas poderão encontrar passatempos semanais.

http://www.moonspell.com/
http://blog.moonspell.com/

E bom Halloween.


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Blogger Diogo Sequeira: Gostei bastante do teu artigo. Os meus parabéns Lex. Não tive ainda a oportunidade de escutar o "under satanae", nem sequer os seus primeiros trabalhos que estão na origem desta "intro-interpretação". Aprecio os Moonspell, apesar de não fazerem parte da minha lista de eleição, mesmo dentro da àrea do metal. Conheço relativamente bem o "Irreligious" e o "Antidote. Vou estar presente, e em princípio, contem com um report semelhante ao outro que escrevi. De novo, os meus parabéns, que de facto, acho que estás a fazer um trabalho de qualidade.

E que tal o último filme do Tarantino ? :) 26/10/07, 19:09  

Blogger Unknown: Tal como o Diogo, ainda que eu ande um bocado pelos lados do Metal desde sempre (aqui no blog não pq Lex chega e sobra para mim no conhecimento geral e eu ficaria mal visto ;)), Moonspell é das tais bandas que nunca me disse nada, nunca percebi todo o seu sucesso, ainda que tenha assistido a alguns concertos dos primórdios da banda e a mais um ou dois depois de já consagrados.

Mas uma coisa é certa, à conta deste post tenho que ouvir este álbum.

Keep Rocking. 26/10/07, 20:56  

Anonymous Anónimo: bem, eu sou daqueles gajos k provavelmente têm palas no olhos como os burros. kero dizer k tenho opiniões mto fortes em relação ao k gosto e sinto - talvez nalgumas coisas seja um defeito, prontos.

e isto pr dizer k nunca gostei de "re-releases" cm estas. acho k o material é assim do género "sagrado" (n me tou a explicar bem, espero k percebam) e devia ficar intocavel. e qd li que os moonspell tinham lançado os primeiros temas reinterpretados, torci logo o nariz.
mas ao ler esta excelente crónica senti-me obrigado a ouvir as musicas k deste link, e estou pasmado.
n sei se ainda há bilhetes pr o concerto, mas se sim, os moonspell k te agradeçam, pq por tua causa ganharam mais um "espectador". 26/10/07, 21:16  

Anonymous Anónimo: Bom post!

Não posso comentar NADA sobre a banda, só soube que eles eram portugueses quando ouvi o sam the kid falar deles (LOL) mas acabo por ficar com alguma curiosidade devido à boa escrita que aqui apresentada. Gostei bastante de o ler, é um texto de fácil compreensão e leitura. 27/10/07, 01:14  

Blogger Lex: Diogo: O "Death Proof"? Bom, naquela tal palavra que já começa a ficar banalizada, mas que o descreve na perfeição - tanto figuradamente como literalmente... BRUTAL!

mark3r: se assim é... objectivo alcançado, então. :-)

metal fan, é como dizia a outra: "não negues à partida uma ciência que não conheces". :-D E de modo algum terás palas. Entendo perfeitamente a tal noção das músicas 'sagradas'... Há coisas que de tão boas que as achamos, se tornam quase intocáveis. Mas isto é tudo uma questão de perspectiva, de atitude do tipo "vamos lá ver no que isto dá". Se esta regravação tivesse dado para o torto, eu não hesitaria muito em dar duas palmadas (virtuais) à banda... e aguardar pacientemente o novo trabalho - que, a propósito, vai entrar em estúdio a seguir a este concerto.

Folgo em ver que a crónica está a ser útil na divulgação de um trabalho que, de cada vez que me entra nos tímpanos, ganha mais significado para mim. :-) Obrigada a todos pelos comentários. 27/10/07, 01:14  

Blogger Dimebag: Têm aqui o link pa sacar:

http://rapidshare.com/files/55247890/M-us.zip 27/10/07, 23:01  

Blogger Talionis: Não há muito que possa dizer acerca desta excelente crónica, os comentários falam por ti. Parece-me que o grande objectivo quando escreves é mesmo divulgar o teu prazer por uma música, género, banda ou neste caso album. E as reacções que tens tido, não só esta semana, provam que o tens conseguido, cativando os leitores. Como cronista, é a maior vitória que se pode conseguir.

Parabéns. 28/10/07, 22:53  

Blogger Lex: Só para dizer terminou neste momento o concerto... e que deve ter sido das setlists mais brutais que me lembro de ouvir. O Under Satanæ tocado na íntegra, mais algumas das músicas habituais dos alinhamentos normais... e a Love Crimes. Isso sim, foi um autêntico coelho tirado da cartola. Nunca pensei.

Grande concerto, mesmo via IOL. :-) 01/11/07, 01:03  

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