Coliseu dos Recreios - 09/10/07
publicado por Diogo Sequeira

Estava uma noite quente. Estava um corredor inundado de negro e de metais de muitas categorias. Cerveja para a esquerda, fumos para a direita, e para quem viveu e continua a viver o espírito rock and roll, posso assegurar que o ambiente pautava-se pela familiaridade e descontracção, que nestes casos sempre se vê, e sempre se quer. Aficionados de música extrema, no geral e como não poderia deixar de ser, povoaram a sala. Desde os fãs do mais "clássico" Heavy Metal, empunhando as omnipresentes t-shirts de Iron Maiden ou Metallica, até à front trasher que como sempre se valeu de forma destacada em várias ocasiões, até à maior fatia do bolo, o pessoal gótico. Mayhem e Darkthrone continuam simbolicamente bem representados, tal como os Cradle Of Filth. Curiosidades que ajudam a definir a crowd, para além dos cabeças de cartaz. As condições acústicas da sala são modestas, apesar de capazes de oferecer qualidade em espectáculos musicais do género. Pequena em dimensões, mas bastante acolhedora, fez-me sentir mais que nunca a relatividade do tempo e do espaço, a partir do momento em que os Dimmu Borgir subiram ao palco. Mas vamos por partes, e vamos fazê-lo com sequêncialidade.

Banda 1 - Engel

Começaram o concerto meia hora mais cedo, ou seja às oito e meia. Uma banda sueca de Death Metal Melódico, com um baterista bastante competente que me despertou quase de imediato maior consideração que o resto da banda. Foi uma forma interessante de começar a noite, pois de facto, fez-se notar uma discrepância muito grande face aos outros dois nomes. Os gajos eram de facto fracos, tanto em palco, como enquanto músicos. Agressividade e dedicação, mas pouco savoir-faire, e ainda muita falta de experiência no trabalho com o público. Umas cinco "fífias" brutais do guitarrista rítmico, e um baixista que por pouco que partia o instrumento. Pouca consistência ao nível da construcção musical. Riffs pouco sonantes, e faixas contínuas a soar o mesmo, com os mesmos acordes, precisamente. A sala estava a um terço da lotação máxima que viria a atingir, e a recepção foi semi-fria. O lado direito mostrou-se sempre muito mais activo que o sector oposto, e a legião começou a formar-se logo com os Engel. Foram-se embora, nem por isso maltratados (deve ser realmente eternecedor tocar em Portugal...), entoando o seu nome, exigindo que fosse repetido. Deixo aqui um vídeo para os curiosos, já que não consegui os alinhamentos de nenhuma das bandas, e para cúmulo, desconhecia totalmente os Engel.



Banda 2 - Amon Amarth

A banda que me levou lá. Com cerca de metade do tempo que durou o main event em palco, bateram-se de igual para igual, com sonidos e lógicas completamente diferentes, em relação a Dimmu. Tivemos um espectáculo de afirmação brutal, ao estilo do Viking Death Metal dos suecos da noite. Foi como que o paradigma do bom concerto de metal. Público ansioso e energético, músicos ansiosos e determinados. Foi o primeiro encontro entre Portugal e os Amon, e pode-se dizer que foi amor à primeira vista. Excelente interacção. Surpresa dos dois lados. Johann Hegg a falar português, e o público a entoar as letras em uníssono. Mais de uma hora em palco, durante uma enchente súbita. Som poderosíssimo, que resultou incrivelmente bem na sala, e no ambiente da mesma. "Death in Fire", "Cry Of The Black Birds", "Runes To My Memory" e "Pursuit Of Vikings" foram os pontos mais altos do concerto, talvez previsivelmente. Poupo-me à descrição do som e da banda (pode ser assunto próximo, e têm um vídeo em baixo). Foi a loucura na pit, e o derradeiro aquecimento, que para muitos, acredito que tenha sido o prato principal. De facto, os Amon Amarth são das bandas de Metal com crescimento mais acelerado, e mais reconhecidas pelos mais diversos sectores de crítica e de público actualmente.



Banda 3 - Dimmu Borgir

Superou as minhas espectativas. Nunca fui um fã de Dimmu Borgir, apesar de ouvir algum Black Metal, e penso que a partir de Quarta me converti definitivamente. Cerca de duas horas em palco, com um encore para tocar "Puritania" e "Mourning Palace", talvez os seus dois maiores êxitos. Excelência cénica. Uma tela gigante por detrás de uma parafernália de fumos, luzes e tochas, dois frades, corpse-painting, picos e armaduras. Linearidade discursiva, de uma maturidade que a meu ver, faz deles um dos melhores grupos de Black Metal em actividade. Foi non-stop, desde "Storblast", passando com relevo pelo "Puritanical Euphoric Misanthropia" e pelo "Spiritual Black Dimensions", até às novas investidas sonoras com o "Death Cult Armaggedon", e em destaque, o novo "In Sorte Diaboli". Os maiores hinos foram intercalados com muito material do excelente novo àlbum. Passaram os espectaculares clips de "The Serpentine Offering" e "The Sacrilegious Scorn" (esta última uma das performances da minha vida. Vejam o clip em baixo). Tudo correu bem. O produto mostrou uma vez mais corresponder aos amantes da extremidade pela extremidade, tal como aos estudiosos das mensagens e da filosofia (que nunca foi abortada, sublinho. O satanismo e o anti-cristianismo, sempre latentes, e só quem é estupido, ou mesmo um autêntico puritano é incapaz de mostrar admiração pela nova iniciativa, que já foi comentada no post anterior do Lex), tal como dos simples fãs de música. Apesar de concordar que são potencialmente uma banda de estúdio, é inegável o poder e a qualidade dos Dimmu Borgir ao vivo. A sala ia caindo com a reacção do público. Moshpit lá à frente de uns bons cinco metros de diâmetro, e muita violência à mistura. Estive a maior parte do tempo lá, e posso dizer que foi a loucura. Houve sangue, e risco de algumas lesões graves, tanto nos mergulhos, como no mosh, em relação a alguns juniores. No entanto, quanto à performance da banda, demolidora, é o que posso acrescentar. Prometeram um regresso, e em princípio lá estarei, tal como para o próximo dia 31, com Moonspell.



Saudações.



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Blogger Bruno Matyas: Fantástico..ja te disse que nao sou mto apreciador deste tipo de musica, mas a forma como te expressas é cativante!

Grande abraço para ti 12/10/07, 18:57  

Blogger Sea B. A.K.A. Timba: Tb tive lá!!!

Engel até foi porreirito, aliás, por mim calava-se o gajo que tava a cantar e até tinha uma boa possibilidade de se tornarem uma banda com algum sucesso

AMON AMARTH FOI LINDO!!! MOSH BRUTAL, OS HOMENS SÃO BRUTAIS!!! Eu quase que derramei umas lagrimas quando o concerto começou...

Dimmu Borgir tiveram a infeliz e ardua tarefa de tocar a seguir a A.A. e tenho que dizer que acabaram por perder um bocado com isso mas tb tiveram uma actuação espectacular, grande prestação do Vortex

P.S: apanhei baqueta de engel e palheta de A.A. tendo feito uma das figuras mais parvas assim que apanhei a palheta... 12/10/07, 20:25  

Blogger Lex: Muito bom, muito bom. :-) Passaste-nos bastante bem o ambiente do local.

Na 3ªF passei por um grupo de pessoal que estava na Avenida dos Aliados à espera da camioneta para o concerto, e fiquei naquela: "desato à porrada a estes gajos, ou mando o trabalho às urtigas e espero aqui com eles?" Nem um nem outro, infelizmente. Eu fui à minha vida e eles foram ver Dimmu.

Fico à espera de review semelhante do dia 31. :-) 12/10/07, 22:20  

Blogger Anérgyné: Parece ter sido um bom concerto, pelo menos foi uma boa review : ] 12/10/07, 23:05  

Blogger Diogo Sequeira: O Vortex é extraordinário em muitos campos. No entanto, penso que o Shagrath é um dos grandes "fronts" da história do rock. O homem tem uma presença sobrenatural quase inata, para não falar dos atributos vocais, entre outros factores, como por bom exemplo a interacção com o público. Para não falar do nível do resto da banda... com especial destaque para a bateria e os teclados (a essência do som dos Dimmu Borgir, a meu ver). Parece que te saíu a sorte grande Pedro... duas em uma não é para todos. Quanto ao mosh, foda-se, em Amon perdi-me do meu grupo e andei a rodar a sala toda à procura de mosh. Eu Dimmu, bem, coisa brutal. Não sei se estavas lá à frente também, mas a julgar pelo monte de pessoal, parece-me provável. heheh. Dia 31 contem com outra, e talvez até lá, com mais qualquer coisa sobre o assunto. O bicho do Black mordeu forte, e há aqui um pulsar crítico de acção-reacção, como devem perceber.

Saudações ao pessoal 12/10/07, 23:58  

Blogger Sea B. A.K.A. Timba: Tirando as primeiras musicas de Engel tive sempre no mosh. Em Dimmu chegou a certa altura comecei a tentar fazer uma imitação ranhosa dos gajos do Hardcore que já tava farto de apanhar porrada... Escusado será dizer que passado um bocado notei que não funcionava e voltei ao metodo antigo... E depois veio um palhaço a correr na minha direcção e deu-me uma joelhada nas costas... 13/10/07, 00:25  

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