... and Metal for All: Amorphis
publicado por Lex

Escrever sobre bandas às quais me rendi há já vários anos é desafiante, porém torna-se fácil pelo à-vontade que essa convivência cria; mas falar de bandas que conheci há relativamente pouco tempo traz um desafio acrescido, na medida em que me obriga a racionalizar os motivos pelos quais simpatizei com elas, ainda em plena fase de descoberta. Portanto vamos lá a ver como isto hoje corre.

Numa das minhas incursões pelos mais recentes lançamentos discográficos (não necessariamente esperando que o CD aparecesse nas lojas, note-se sem pudores) esbarrei com algo que apelidavam de 'excelente', 'fantástico', e por aí fora. Tinha apenas uma vaga ideia do nome da banda e não guardava nenhuma lembrança do tipo de som que faziam, apesar de já me terem passado pelos ouvidos há uns anos.
Era o último álbum dos finlandeses Amorphis.

Confesso que até agora não era propriamente uma banda que me cativasse por aí além. Tinha ouvido o velhinho "Tales From the Thousand Lakes" (1994) há cerca de 3 anos e por aí me ficara, sem saber que muita coisa tinha mudado entretanto. Não que o "Tales..." seja um mau álbum, aquilo é death Metal do puro e do duro, cheio de poesia, técnica e uma obra de excelência para os apreciadores mais ferrenhos do género - aliás, foi um tremendo sucesso. "Black Winter Day" é dos melhores temas que se fizeram naqueles dias, mas por alguma razão que desconheço, o álbum como um todo não caiu nas minhas melhores graças (apesar de ser conceptual, coisa que costumo apreciar desde logo). Ou porque o meti no mesmo saco que tantos outros álbuns do mesmo sub-género, ou por causa daquela voz, naquele pedaço daquela música, que me irritou... Ou então simplesmente porque não era a altura certa para eu o ouvir, e quando assim é nada há a fazer senão esperar que ela chegue (porque isto das afeições musicais é exactamente como as afeições humanas: só acontecem se e quando tiverem que acontecer).

Após alguns trabalhos relativamente bem sucedidos, a substituição do vocalista veio mudar radicalmente o rumo sonoro da banda, e acredito que muita gente nem os tenha reconhecido ao ouvir o "Eclipse" (primeiro álbum gravado com Tomi Joutsen na voz, em 2006). Mas esta mudança acabou por ser um verdadeiro sopro de vida, já que para mim os últimos trabalhos antes dessa viragem denotaram uma gradual perda de força, e considero o "Far From the Sun"(2003) já francamente desinteressante. Não vou estar a aventar um motivo exacto e científico para isso, mas a mim basta-me que sinta que está a ser um frete ouvir aquelas músicas para nunca mais as tornar a passar. Até um dia, quem sabe...



"Black Winter Day", do "Tales From the Thousand Lakes"...





... e "House of Sleep", um dos grandes temas de "Eclipse". Para que possam comparar as vozes do 'antes' e do 'agora'.

No passado Setembro foi lançado o seu mais recente trabalho de originais, "Silent Waters". Como eu disse lá atrás, não tem nada a ver com os Amorphis de "Tales From the Thousand Lakes", portanto quem achar que só pode gostar deles daquela maneira, que passe à frente, porque a probabilidade de gostar deste álbum é tão remota quanto a de o petróleo regressar aos $30 por barril.
Mas não é inexistente.

O que temos em "Silent Waters" é a continuação lógica do que a banda já tinha feito em "Eclipse": um Metal mais melódico e leve, embora tendo os seus momentos de peso. Os riffs poderosos estão lá mas existe uma melodia que é apoiada por uma linha de teclados marcante. A voz é limpa na esmagadora maioria do tempo, embora inclua aqui e ali uns respeitosos guturais, combinando-os muito bem com um timbre claro mas que não se torna aborrecido (digo eu, que geralmente não aprecio vozes mais cantadas). Para mim tudo isto resultou na perfeição, e sou de opinião que esta nova voz se transformou na principal mais-valia dos actuais Amorphis. Não me ralo muito que para chegar a este ponto eles tenham perdido alguma da dureza e brutalidade que os caracterizou em tempos, para se voltarem agora para uma vertente mais serena e hard rock. É apenas um outro tipo de introspecção.


"Silent Waters", o vídeo de estreia do novo álbum.


"Her Alone" ao vivo. Esta música tem qualquer coisa...

Do relativamente pouco que eu conheço dos trabalhos dos Amorphis, arrisco dizer que "Silent Waters" atingiu um nível de excelência superior a qualquer outro, tanto a nível técnico como melódico. Apesar do assunto abordado nos textos ser novamente o épico finlandês "Kalevala" (tema mais que batido, pois practicamente todas as bandas daquele país lá vão buscar inspiração, a dada altura), a música abafa qualquer monotonia de inspiração. Temos desde potentes malhas como a "Weaving the Incantation" logo a abrir, até baladas de puxar cá para fora a emoção mais contida (experimentem ouvir a "Her Alone" e depois digam lá se não vos dá vontade de se irem ajoelhar em frente à/ao vossa/o mais-que-tudo jurando-lhe amor eterno :-D ).
Tudo isto funciona muito por mérito não só da voz de Tomi Joutsen, como também da guitarra de Esa Holopainen, membro fundador e pilar de sustentação do grupo. Há ali riffs que não nos saem da cabeça.

Top3 pessoal:

- Her Alone
- I am of Crimson Blood
- The White Swan

A capa deste disco faz as delícias de quem (como eu) dá importância ao aspecto visual de um álbum. Aliás, tenho-a como wallpaper no escritório há já algum tempo e merece elogios de toda a gente. Há que concordar que está fantasticamente simples, tanto no esquema de cores como nos elementos presentes. Um cisne (cruzado de flamingo, ok, mas isso é secundário) e uns poucos cinzas são o suficiente para ilustrar harmonia feita com classe. Um caso exemplar de como nem sempre é preciso recorrer a sangue, entranhas, dragões ou gajos musculados para uma capa de um disco de Metal. Embora eu até ache as capas com sangue e entranhas bastante divertidas.

(Password: galaxiamusica.blogspot.com)

Foi uma boa surpresa, este "Silent Waters". Trouxe-me um lado novo e arejado dos Amorphis, que passaram a poder encaixar-se na secção mais melódica e menos extrema da minha colecção. É coisa para agradar até a quem não seja grande apreciador de Metal, digo eu, mas nada como experimentarem e depois dizerem de vossa justiça. :-)


Escolha da semana:

"Under the Northern Star", dos Amon Amarth. Esta música tem-me siderado nas últimas semanas, é capaz de ficar em repeat vezes demais para ser considerado saudável. Fabulosa.

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Blogger Talionis: Quando comecei a descobrir o género metal, os Amorphis foram das primeiras bandas que me chegaram às mãos, inevitavelmente com o velhinho Tales From the 1000 Lakes. Lembro-me de ouvir, mas depois ficaram-se mesmo por aí; hoje já se torna difícil ser cativado por eles, mas é de louvar que ainda andem por aí.

E sobretudo, destaca-se a música "Cares", música pioneira num sub-género do metal: o "black metal pimba". Oiçam e perceberão. É brutal \m/ 17/11/07, 12:31  

Blogger Lex: Eh pá, és mau. :-D

Mas sim, é verdade que essa 'Cares' tem algo de pimba. Lá um minuto e tal de... pimba. Porra, é que é mesmo... :-| 18/11/07, 03:44  

Blogger Unknown: Só para dizer que não consigo parar de ouvir o Her alone e também o Under the Northern Star dos AA...

Ando a ser aculturado ;) 18/11/07, 22:28  

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