... and Metal for All: Týr
publicado por Lex

Quando se fala da Noruega ou da Finlândia, faz-se uma associação quase automática ao Black Metal; também associamos facilmente os EUA ao Thrash, se calhar... E as ilhas Feroés, associamos ao quê? É isso mesmo: as ilhas Feroés, que ficam lá para um recanto esquecido no norte da Europa, a meio caminho entre a Escócia e a Islândia, e de que provavelmente 99% da população portuguesa nunca ouviu falar. Pertencem à Dinamarca e também têm Metal - e do bom. Vêm de lá as minhas ‘vítimas’ de hoje: os Týr.

Antes de mais, convém referir que o nome da banda não é uma homenagem ao peso-pesado da camionagem internacional, mas a um deus do panteão nórdico: Týr, o deus maneta da guerra e da justiça. Sim, só tinha uma mão, mas era considerado o mais corajoso e civilizado de todos. Torna-se assim lógico que o tema principal focado nas letras desta banda seja o folclore escandinavo, com as suas lendas recheadas dos grandes feitos de personagens míticas. Esse facto poderá justificar que esta possa ser uma daquelas bandas que não servem a todos os ouvidos ou disposições, há muita gente que não aguenta tanta fantasia junta. Eu costumo ser uma dessas pessoas, mas no entanto este som escorregou-me pelos tímpanos como cerveja fresca em garganta seca.
Estes rapazes já aí andam há uns bons anos (desde 1998), e têm uma discografia bastante razoável - três álbuns e duas demos. Para além disso contam com digressões acompanhando nomes já consagrados do género, nomeadamente com os Amon Amarth. Segundo reza a lenda, quando começaram a dar os primeiros toques como banda nem sonhavam que existia algo definido como Viking Metal, e aquilo que pretendiam tocar era tão somente Heavy Metal, com uns pozinhos de músicas tradicionais da sua terra. Só souberam dessa categorização aquando das críticas ao primeiro álbum.

Após as inevitáveis migrações de membros pelas quais todas as bandas passam chegaram à formação actual, cujo trabalho tem dado bons frutos. O vocalista de hoje - Heri Joensen - começou por ser apenas o guitarrista, e só assumiu o lugar ao microfone para um desenrascanço temporário... Deve ter sido o melhor tapa-buracos dos últimos tempos, porque quanto a mim, a sua voz tornou-se num elemento essencial para singularidade do som dos Týr.
Enquanto que a maioria das bandas viking contam os terrores e o sangue derramado nas batalhas, os Týr trazem-nos o ambiente festivo dos guerreiros a cantar e a beber na taberna, celebrando a sua vitória. Melodicamente apenas, contudo, porque em termos de conteúdo lírico a história não foge à cantada pelas bandas congéneres. Mas acho toda essa festividade melódica algo de positivo. De vez em quando gosto de um Metal que possa acompanhar à voz, cantarolar, e este presta-se muito bem a isso, devido tanto à voz limpa (sem ser lamechas) como às guitarras que se empenham em criar solos e riffs bem trabalhados, daqueles que ficam no ouvido.

Em 2002 editaram “How Far to Asgaard”, o seu primeiro LP. É um álbum ainda algo eclético, olhando para trás e comparando-o com o último trabalho. Nota-se que ainda andavam um pouco à procura daquilo que queriam realmente fazer, a afinar agulhas. Nele podem encontrar-se aromas algo fortes de rock progressivo, misturados com a tónica principal que são o Folk Metal e as músicas tradicionais faroesas - tónica essa que se viria a cimentar nos álbuns seguintes. Mas apesar dessa mistura, o todo é já bastante coeso, o que para primeiro trabalho ‘a sério’ de uma banda é bom sinal.

– "Ormurin Langi", da primeira demo (2000). Não será a melhor das músicas da banda, mas foi com esta que começaram a ser conhecidos nas rádios locais.

– "Hail to the Hammer", do "How Far to Asgaard", ainda com o antigo vocalista. Acho que só beneficiaram com a mudança.

- "Ólavur Riddararós", para terem um cheirinho de como são ao vivo. Da demo com o mesmo nome (2002).

Com “Eric the Red”, lançado em 2003, os Týr dão mais um passo no bom caminho, como acabou por ser provado através do reconhecimento por parte de uma editora já de alguma dimensão. Daí em diante serão editados pela Napalm Records - e re-editados, como no caso deste mesmo álbum, que tem uma edição diferente pela Napalm em 2006. Começavam aqui a ganhar um novo fôlego para se lançarem naquele que é, para mim, o melhor dos seus álbuns, e também na divulgação em força pelo resto do mundo, pondo as pequenas ilhas Feroés no mapa do Metal internacional.

- "Regin Smidur", do "Eric the Red". A língua feroesa no seu melhor, diria eu.

Ragnarok” apresenta-se-nos em 2006 com uma consistência a toda a prova. Isso só não é mais surpreendente porque já os anteriores álbuns haviam sido feitos com o mesmo cuidado, embora não fossem, como este, conceptuais. Temos a batalha final dos deuses nórdicos (que é o significado da palavra ‘Ragnarok’) cantada em dezasseis temas, de tal forma entrelaçados que a páginas tantas já não sabemos se estamos a ouvir um já repetido ou se é outro muito parecido. Mas o melhor de tudo é que isso não chateia. Não estamos a ouvir músicas soltas, que podiam ser deste ou daquele álbum; estamos a ouvir um todo. Temos aqui um trabalho com uma estrutura semelhante à de uma ópera: introdução, desenvolvimento e conclusão (sim, que isto do Metal tem rigorosamente tudo a ver com as composições clássicas, ainda que a primeira vista não pareça). Há uma história que é contada, e lá pelo meio há riffs que desempenham ‘papéis’, e como têm várias ‘falas’ aparecem pontualmente por entre as diferentes músicas, anunciando-as numa intro ou referindo-se a elas numa faixa que se lhes siga. As pontes instrumentais entre temas cantados estão estrategicamente colocadas no alinhamento e fazem maravilhas pela coerência do conjunto.


Aquilo que os Týr vêm fazendo desde o primeiro álbum é, muito basicamente, transportar-nos sobre terras e mares para a sua terra natal, para o tempo em que homem que fosse homem tinha uma longa barba piolhosa e um capacete com cornos. A maioria das bandas de Viking Metal faz música inspirada nos heróis dos seus países, mas poucas nos conseguem fazer sentir mesmo lá no meio desses heróis, apesar da força toda das suas composições. “Ragnarok” consegue esse feito na perfeição, muito graças à utilização dos coros (feitos pelos próprios elementos da banda), ao uso do feroês juntamente com o inglês (sem causar grande estranheza, curiosamente) e de sons folclóricos quase inalterados. Merece algum realce neste aspecto uma música em particular: “Grímur Á Midalnesi”, uma antiga canção tradicional feroesa sempre presente nos anteriores álbuns, quer em pequenos apontamentos introdutórios, quer inserida noutras músicas, e que é finalmente revelada por completo, com direito a faixa própria. É daquelas que uma pessoa dá por si a cantarolar em qualquer altura do dia.
Neste álbum podemos encontrar de tudo um pouco, no que ao ritmo e técnica musicais diz respeito. Como boa obra conceptual que é, impõe-nos momentos diferentes para que possamos perceber a evolução da história que nos conta. Temos músicas mais calmas como as brilhantes e majestosas “Wings of Time”, "Ragnarok" ou "Brother’s Bane", temas mais guerreiros e épicos como “The Hammer of Thor”, "Lord of Lies" ou “The Hunt” (onde temos então os riffs mais rápidos e solos de guitarra tecnicamente mais desafiantes), e as tais faixas instrumentais de ligação e ambientação, maioritariamente de inspiração tradicional, e que podem até resumir-se ao som ambiente da chegada de uns quantos cavaleiros a uma taberna e aos seus cantares por entre copos de calva. A própria intro, "The Beginning", funciona como um narrador que nos anuncia aquilo que vamos ouvir, através de uma espécie de medley de várias músicas. São pequenos detalhes como estes que conferem a “Ragnarok” uma atmosfera Viking tão credível.

E claro… a capa. Completamente de acordo com o tema do álbum, o grafismo não podia ser melhor. Sóbrio mas eficaz - fórmula aprovada pela banda desde a re-edição de "Eric the Red", de resto.



Top3 pessoal:

- Lord of Lies
- Wings of Time
- The Hammer of Thor

Nem só de sombras vive o Metal, nem tão-pouco é feito apenas em meia dúzia de países privilegiados. Os Týr estão aí para nos provar tudo isso... Basta que nos deixemos levar pela atmosfera que eles sabem criar tão bem.

http://www.tyr.net/

MySpace da banda.

\m/


P.S.: último aviso para Easter Egg... habituem-se, que eles andam aí. :-)

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Escolha da semana:

Corvus Corax - "Venus Vina Musica".

Aviso: folk medieval alemão. Só para valentes. :-D

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Blogger ZePedro: A título pessoal, não gosto muito dos Tyr. Mas aprecio a maneira como escreves, e este texto foi muito agradavel de ler!

A escolha musical foi muito boa! Folk Alemão Kick Asses! xD 04/11/07, 08:36  

Blogger Lex: Concordo que Týr não serão um som fácil para muita gente. Mesmo eu me surpreendi por gostar deles. :-D

Mas o que mais conta aqui é divulgar bandas, nomes, géneros. Depois se as pessoas passam a gostar ou não, já é com cada um. :-) 04/11/07, 23:53  

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