... and Metal for All: Belenos
publicado por Lex

Quem nunca leu Astérix que levante o braço.
E em seguida que se aproxime para sofrer o devido castigo:

Ok. Agora que só restam os conhecedores de tal magnífico ícone da BD europeia, peço que se recordem dos nomes do panteão de deuses celtas que os heróis dessas aventuras tanto invocavam. Temos Toutatis, o deus das tribos; Belisama, padroeira das Artes e dos rios; Taranis, o deus do trovão (que se irritava facilmente quando Assurancetourix, o bardo, cantava)... E temos Belenos, o deus do fogo e da cura.
Belenos é também o nome de uma banda que descobri este Verão, e que me cativou de tal modo que não sosseguei até arranjar alguns originais - chegando mesmo para isso a ter que contactar a própria fonte, mas isso é algo que explicarei mais adiante.

Confesso que nunca simpatizei muito com o dito espírito "true" que forma uma determinada corrente dentro do Metal. O 'meu' Metal sempre foi mais abrangente, e pessoalmente eu achava que muita gente que se auto-incluía nesse grupo lutava por manter uma fachada que servia não sei bem para o quê. Opiniões como a de que se uma banda vendesse mais que 100 cópias do último álbum já se encaixava na categoria de sell-out sempre me mantiveram à distância, mas Belenos vieram alterar um pouco essa ideia. Vi neles uma pérola numa ostra no abismo mais profundo do Oceano, um valor à espera de ser descoberto. Mais underground que eles é difícil... Mesmo eu não me recordo exactamente como fui dar com isto. Acho que numa das minhas pesquisas por outra coisa qualquer, passou-me o nome pelos olhos, achei-lhe piada e ouvi-os sem grandes expectativas. Sei que ninguém mos havia recomendado nem nunca tinha ouvido falar neles antes. Espero portanto repôr alguma justiça dando-os a conhecer a mais gente, nem que seja só a mais uma pessoa, porque afinal o dito underground sempre tem valores genuínos que vale a pena serem descobertos, e que não estão lá só para dar o ambiente primitivo (as in não publicitado e/ou comercializado) à 'cena'. Espero ter-me feito entender.

Se é certo que a França não é muito famosa pelas suas bandas de Metal, também é certo que esta é das melhores que por aí andam a nível internacional (na minha opinião muito pessoal). "Brutal Pagan Dark Metal" - apesar de ter demasiados adjectivos juntos para o meu gosto, é assim que se define Belenos, a banda que não o era, passou a ser e deixou de sê-lo novamente. Apesar de estarem já vários álbuns editados, a formação nunca foi estável e o único que se mantém firme no leme é Loïc Cellier, seu criador e mentor, já lá vão 12 anos.
Levei pouquíssimo tempo desde que conheci esta banda até a entranhar, o que me surpreendeu bastante. E sim, continuarei a chamar-lhes 'banda' apesar de serem só... um.

As músicas abordam uma temática que corresponde na perfeição ao nome da banda: lendas celtas, demandas épicas, orgulho guerreiro, odes à Natureza, preces aos deuses pagãos... Tudo isso compõe o imaginário de Belenos, acompanhado de uma música que combina um black Metal potente feito de batidas aceleradas e guitarradas excelentes, com fragmentos folclóricos mais suaves, mas poderosos o suficiente para nos transportarem directamente para dentro de uma qualquer floresta normanda, com druidas ocupados colhendo visco dos carvalhos ou preparando um ritual qualquer junto a um ribeiro. É espantoso o poder que a música tem de nos levar a sítios e épocas diferentes. Destaco a versatilidade vocal de Cellier, que pode ir das entranhas mais profundas da terra até a um canto límpido e quase angelical. Nota positiva também para a adição de coros "guerreiros", que conferem a tudo uma atmosfera ainda mais credível.
Por se tratar de uma banda pouco conhecida, justifica-se que eu abra uma excepção ao que é meu costume e que apresente aqui uma pequena biografia, apenas para terem uma ideia de quem é que estou a falar.

Loïc Cellier é o homem por detrás de tudo desde o início, em 1995. Com a ajuda de Nathalie Leblanc na parte dos textos e na guitarra, lança a primeira demo, "Notre Amour Eternel" no ano seguinte e obtém algum sucesso. Mas os dois lançamentos seguintes - as demos "Triste Pensée" e "Allégorie d'une Souffrance" - viram-se relegados para segundo plano por parte da editora, tendo ficado na gaveta durante dois anos.
Em finais de 98 a banda dá um passo em frente, constituindo-se finalmente como um grupo completo com voz, bateria, guitarra e baixo. 2001 vê o lançamento do CD "Errances Oniriques" sob a alçada de uma nova editora, depois de algumas alterações ao line-up da banda. Novamente o trabalho colhe boas críticas.

Mas é em 2002 que aparece aquele que é, para mim, o seu melhor álbum até agora: "Spicilége". Foi com este que Belenos me agarraram, e foi este que persegui até o ter que comprar ao próprio Loïc Cellier (o exemplar pessoal do homem), por já estar esgotado em todas as lojas que encontrei. Top3 pessoal: "Chant d'Automne", "Par Belenos" e "Mort Divine". Agora dirão alguns: "Erm... francês? Isto é cantado em francês?" Sim, é. Mas não se assustem, dêem-lhe uma chance apesar disso porque vale a pena, e garanto-vos que o timbre no qual as músicas são cantadas não deixa que as antipatias pela língua de Victor Hugo se sobreponham à apreciação dos temas em si.

Em 2005 Cellier muda-se para o extremo Oeste da França (para a região da Bretanha), inviabilizando assim a continuidade das actuações ao vivo, que de qualquer modo já eram algo escassas, nunca passaram de países próximos à França, como a Bélgica ou a Suiça, por exemplo. Mesmo assim, no ano seguinte é lançado o seu segundo melhor álbum, "Chants de Bataille", já sob a alçada de nova editora - a Adipocere, conhecida entre nós por ter editado o MCD "Under the Moonspell", por exemplo. Deste álbum destaco "Fureur Celtique", "Funerailles" e "Chant de Bataille".

Hoje em dia a banda vê-se regressada portanto à formação inicial de um só elemento. Mas desengane-se quem achar que um homem sozinho não a leva a lado nenhum. Não sei se por influência dos dólmenes que existem com alguma abundância na zona da nova residência de Cellier, das energias que alegadamente esses locais possuem, ou se por pura força de vontade, o certo é que é lançado hoje, precisamente, o terceiro álbum de originais de Belenos: "Chemins de Souffrance". Ou semi-álbum de originais, mais concretamente, já que a primeira parte é a regravação da demo "Allégorie d'une Souffrance" de 1998, e a segunda (denominada "Les Chemins de la Mort") é que traz o material novo. Pelo que já pude escutar, não estará, no seu todo, melhor que os álbuns anteriores mas segue a mesma linha compositiva, o que em si não é uma coisa má. Apesar de tudo gostaria de ter vislumbrado neste álbum algum sentido evolutivo.

Se vos apetecer embrenharem-se nas lendas celtas, esta é a vossa banda sonora. Tanto dá para acompanhar estados de espírito turbulentos como mais calmos e reflexivos - é à escolha do freguês. A qualidade em qualquer dos casos é que é garantida. Pelo menos para mim.

Password geral: galaxiamusica.blogspot.com

Escolha da semana:
Deixo-vos com um clássico de Type O Negative,
Black nº1. Imortal.

\m/


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Blogger Sea B. A.K.A. Timba: Bom post, minimamente cativante. Quanto à musica e banda comento assim que tiver ouvido tudo. 07/12/07, 01:05  

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