... and Metal for All: Dæmonarch
publicado por Lex

Quando comecei a escrever estes artigos não sabia ao certo por onde me levariam. Sabia que teriam em comum o Metal, e era só. Ao longo destas semanas acabei por descobrir um pouco mais sobre aquilo que eu ouço e aquilo de que mais gosto. Afinal tenho mais uns pozinhos de black do que eu julgava... Isso não me aquece nem arrefece, mas serve para dizer que esta minha tendência não é intencional. Eu escrevo conforme a inspiração e raramente planeio com muita antecedência que banda ou assunto vou focar.
Portanto aguentem-se, que hoje vem aí mais uma banda tremendamente obscura. :-)

É um projecto quase secreto. Aparentemente os seus integrantes não gostam de falar muito sobre ele, e quando se lhes pergunta sobre isso preferem arrumar a questão com um "foi coisa do momento, agora acabou e não, não temos intenção de a fazer regressar". E a conversa fica por aí, porque se respeita a vontade alheia de enterrar o assunto.
Provavelmente por isso muita gente nunca pôs os ouvidos em Dæmonarch, o que é uma pena, pois trata-se talvez de um dos melhores projectos de black Metal alguma vez feitos em Portugal. Fernando Ribeiro (ou neste contexto, Langsuyar), Ricardo Amorim, Pedro Paixão e Sérgio Crestana, (três membros actuais e um antigo dos Moonspell, para quem não tenha reconhecido os nomes) registaram num único álbum o seu lado mais negro... e obscuro, se quiserem, que é uma palavra de que tenho gostado bastante, por alguma razão... eh pá, obscura.

Após o começo com o mítico "Under the Moonspell", e depois de terem enveredado por vertentes mais soft (ainda que esta seja uma opinião sujeita a discordâncias), os membros de Moonspell decidiram voltar às origens, aos sons mais pesados e às ideias mais negras. Mas não sem uma razão especial. Em 1998, depois de terem lançado um álbum como "Sin/Pecado", tão controverso no seio das preferências dos fãs, quiseram - precisaram - abrir uma excepção e gravar um disco... catártico. Havia necessidade de libertar uns quantos demónios interiores, vindos só eles sabem de onde ou quando, de uma só vez, num só trabalho, ficando desse modo livres para trilhar outros caminhos com os Moonspell. Pelo que me diz respeito, foi aposta ganha e só pecou por se terem ficado por um único álbum. Faço parte do punhado de gente que gostaria de os ver novamente juntos... Uma celebração de 10º aniversário neste ano que entra não era nada mal pensada, mas até ver não existem quaisquer planos para uma reunião - até porque em matéria de sonoridade, o último álbum de Moonspell, "Memorial", já lhes matou a saudade de algo mais pesado. Pelo menos por enquanto.

"Hermeticum" é o nome do único álbum lançado pelos Dæmonarch. Quarenta e poucos minutos de uma incursão num black Metal extremo e duro. Sem grandes enfeites nem efeitos, mas intenso. Nada como Dimmu Borgir, por exemplo. E nem o facto de a bateria ser 100% sintetizada (o baterista Mike Gaspar foi o único que não fez parte do projecto) lhe tira o efeito geral.

Pass: galaxiamusica.blogspot.com

Os temas abordados nas músicas são quase um mistério, pois as letras nunca foram oficialmente divulgadas (o digipack não as inclui). Quando questionado sobre isso, Langsuyar chegou mesmo a responder que o cão tinha comido os manuscritos... A ideia de ser um álbum feito quase exclusivamente para consumo próprio, num acto de catarse isolado, ganha assim ainda mais força. Pois - azar do caraças - esse acto chegou aos ouvidos de mais gente, que gostou do que ouviu e quis saber mais sobre isso.
Por isso andam por aí algumas tentativas (não oficiais, obviamente) de passar essas letras para o papel que, estando correctas, só vêm reforçar a ideia geral de intimismo, fúria e perturbação interior. Mas penso que nunca se terá a certeza absoluta de tal coisa.


A abrir, o meu tema favorito: "Lex Talionis". A Lei de Talião: olho por olho, dente por dente. O primeiro encontro com uma voz familiar que se mostra alterada, completamente visceral, arrancada às entranhas. Também se reconhece bem a guitarra do Ricardo, pelo que se sente assim uma inesperada afinidade com todo o som, ainda que seja algo de novo aos nossos ouvidos. É quase como quando encontramos na rua alguém que conhecemos não sabemos bem de onde... só vagamente familiar.
O alinhamento continua com "Of a Thousand Young" e "Corpus Hermeticum", esta última uma das melhores malhas de todo o CD.

Segue-se um tributo sentido: "Call From the Grave", uma cover de um nome relevante no percurso de alguns dos membros da banda, a sua inspiração da adolescência: Bathory, do malogrado Quorthon. Dão-nos aqui uma versão ainda mais pesada e negra que o original, mas que lhe é fiel. Até o excerto da marcha fúnebre se mantém.
"Saniyaza" e "Nine Angles" preparam o caminho para outra das boas malhas deste disco: "Incubus". Longe de ter algo a ver com uma certa banda muito em voga aqui há uns tempos (ainda existirá?), esta "Incubus" tem a particularidade de ter servido de base (ou inspiração, como queiram) para uma das últimas músicas de Moonspell. Se já ouviram a instrumental "Proliferation", nona faixa do "Memorial", talvez reconheçam este tema de que vos falo, pois é um rip-off descarado dos teclados. Pedro Paixão 'plagiou' Pedro Paixão, e foi engraçado ver as reacções de quem ouvia o "Memorial" pela primeira vez e reconhecia lá algo de Dæmonarch. Foi uma espécie de um matar de saudades, quiçá.
A última faixa, "Hymn to Lucifer", é uma homenagem a Aleister Crowley, mestre de culto do oculto (passo o pleonasmo) por quem a banda sempre teve um especial 'carinho'. A introdução narrada é um excerto do seu próprio poema, "Hymn to Lucifer", sobre o qual foi montada a restante letra.

Está apresentado um dos projectos potencialmente mais promissores da cena nacional. Apesar de não existirem planos para um 2º álbum de Dæmonarch (até porque um dos músicos, Sérgio Crestana, está afastado dos outros por questões várias), um regresso não está completamente posto de lado por parte dos restantes, desde que se reúnam condições semelhantes às que despoletaram todo o processo em 98. Eu cá fico à espera.

Escolha da semana:

Um rock para variar. Um dos riffs mais marcantes de toda a história da música contemporânea: "Kashmir", dos Led Zeppelin.

\m/

Etiquetas: ,




Página Inicial
Blogger Unknown: Não conhecia, mas após audição só posso dizer que gosto muito mais do que de Moonspell, mas como eu não sou grande fã da banda, sou suspeito... 14/12/07, 01:33  

Blogger Talionis: Conheci-"os" na altura em que o Hermeticum foi lançado, e como na altura estava mais virado para estas sonoridades que nunca, depressa me cativaram...

...e depressa os "esqueci". Repesquei-os quando repesquei o metal no geral, e são uma presença obrigatória em qualquer playlist minha.

Um projecto fantástico, e diria mesmo que é de longe o melhor album do género alguma vez editado por uma banda portuguesa. Mais: dos melhores que já ouvi mesmo no geral. Sim, é mesmo assim tão bom.

E não, o meu nick não vem do tema que referiste... (já o usava na net antes do album surgir) 15/12/07, 01:29  

Blogger Lex: Mark3r, ficarás então feliz (ou nem por isso. :-D) por saber que os Moonspell caminham para 'sítios' mais próximos de Daemonarch a cada álbum. O seguinte anuncia-se bastante pesado. A ver vamos.

E o meu nick também não vem necessariamente da música desta banda. :-) 18/12/07, 15:43  

2007-2009 Galáxia Musica. Template elaborado e idealizado por Skywriter