A Polónia tem sido falada ultimamente por causa das medidas pseudo-moralizantes que os governantes anteriores tinham vindo a tomar. A mais polémica, para quem ande atento ao mundo musical, foi porventura a criação de uma lista de bandas que ficaram proibidas de actuar em território polaco, por serem por eles (governantes) consideradas de índole satânica. Entre elas estavam os Moonspell, Marilyn Manson, e até os polacos Behemoth. E quase que aposto que a banda que vos trago hoje também está nessa lista.

Também eles susceptíveis de serem tidos por satânicos, os Vesania juntam-se ao grupo de nomes polacos que mostram que o seu país continua a debitar bom Metal, na senda de uns Vader ou de uns Damnation.

Quem gostar de Dimmu Borgir tem boas hipóteses de gostar de Vesania. Encontram-se muitas semelhanças de estilo, embora estes últimos pratiquem um black Metal menos elaborado que os noruegueses.
Quem não gostar de Dimmu pode sempre experimentar estes, quanto mais não seja para ver se a sua aversão é à banda ou ao seu estilo musical. Mas a comparação entre ambas é inevitável, como perceberão mal puserem os ouvidos no último álbum, "Distractive Killusions". Ora, como eu cá gosto de Dimmu, este trabalho entrou no meu ouvido que nem ginjas mal o ouvi.

Mas primeiro, o contexto.
Vesania não são propriamente uns estreantes no que à música diz respeito. Criados em 1997, já têm três álbuns editados: "Firefrost Arcanum" de 2003, "God the Lux" de 2005 e este último, de 2007. Alguns dos seus membros actuais dividem-se por mais do que uma banda - parece que é uma tendência muito em voga ultimamente - pelo que podemos encontrar Orion (o vocalista e guitarrista) a desempenhar a função de baixista nos Behemoth, e o baterista Daray nos não menos famosos (e igualmente polacos) Vader... Isto só para mencionar as bandas de maior fama internacional. Este fenómeno tem a sua piada na medida em que pode facilitar a presença de ambas as bandas no mesmo cartaz, mas impossibilita a tour de uma enquanto a da outra durar. Mas isso são contingências de outras batalhas.

É interessante ver a evolução da banda desde o primeiro lançamento até agora. Em três CD's passaram de um black Metal quase crú para composições mais trabalhadas, tanto a nível de cada música, individualmente, como ao nível do álbum enquanto ideia, conceito.

"Firefrost Arcanum" é um trabalho extremo, e para o ouvir eu preciso de uma determinada predisposição. O ritmo pouco varia de faixa para faixa e practicamente não existem elementos que quebrem a eventual monotonia que pode surgir como consequência disso mesmo.

Não aconselho este álbum a toda a gente, mas não deixa de ter o seu interesse, até porque foi graças a ele que a banda conseguiu alcançar alguma notoriedade, um lugar no Metalmania Festival de 2003 e outro no autocarro dos Vader como banda de abertura da sua tour, também nesse ano. Nada mau para um grupo de rapazes que se anunciava (e anuncia ainda) como os porta-vozes da loucura.

Dois anos contribuíram bastante para o amadurecimento do colectivo polaco, e eis que surge o muito bem recebido "God the Lux", bastante diferente do seu predecessor.
Aqui as faixas estão quase todas interligadas entre si, e surgem já as primeiras orquestrações, os teclados mais elaborados e quase épicos. A atmosfera geral apresenta-se-nos bem mais obscura, e a nível conceptual a banda experimenta mais do que no primeiro álbum, arriscando numa faixa com 25 minutos de duração... dos quais 24 são silêncio. Pergunto-me se serão grandes admiradores de John Cage...