... and Metal for All: Sepultura
publicado por Lex

Estamos no ano 1985 d.C. Todo o Brasil está subjugado à ditadura do samba na Marquês de Sapucaí e da bossa-nova tocada ao pôr-do-sol, melancolicamente... Todo? Não! Um pequeno grupo de metaleiros irredutíveis resiste ainda e sempre à tirania dos costumes musicais.

Por 'pequeno grupo de metaleiros' não me refiro a uma só banda, mas a todas as bandas de Metal que surgiram no país irmão a partir de meados dos anos 80, e que contribuem desde então para diversificar a ideia que temos do panorama musical brasileiro.
Há muitas, mas hoje é a vez de vos trazer os Sepultura - só por acaso, a banda de maior calibre dentro do seu género, no seu país.


Falei ali em cima em 1985 por ter sido o ano em que lançaram à terra a semente daquilo que se viria a tornar um colosso do death/thrash Metal, pois foi nesse ano que gravaram os seus primeiros temas num split-CD em conjunto com uma banda igualmente pequena da sua região (os Overdose). No ano seguinte gravaram o seu primeiro CD, e daí em diante foi só somar êxitos. Ou quase. Mas já lá vamos.

Importa para já dizer que os Sepultura são desde há muito um nome incontornável do death/thrash mundial, e pessoalmente acho que terem conseguido sair de um país tão intimamente conotado com um ritmo tão popular como o samba foi um feito, só por si, notável; já o facto de o terem conseguido fazer com um nível de qualidade tão alto, foi algo verdadeiramente merecedor de uma série de vénias.

Comecei a ouvir Sepultura já no início do seu declínio (e sim, já lá vamos, novamente), em 1993 com o excelente "Chaos A.D.", gravado rafeiramente numa cassette de 90, que por sua vez já tinha sido gravada antes com não sei o quê. Comecei tarde, mas não podia ter começado por melhor álbum. O "Arise", (anterior) também é muito bom, mas este é uma obra-prima. Temas como "Refuse/Resist" ou "Territory" ficarão para sempre gravados como que a fogo na memória, lembrando-me daqueles anos. Mas sentimentalismos à parte, são faixas mesmo inesquecíveis.

Para quem não sabe, o som que se ouve logo no início é a batida do coração do filho do Max Cavalera, ainda no ventre da mãe. (Quem disse que os metaleiros são uns brutos insensíveis? :-D)

Há outra faixa que merece destaque neste álbum, por lhe ter trazido aquele detalhe que tornou os Sepultura numa banda única e imediatamente identificável entre outras: o tribalismo. A música? Kaiowas.
Foi a primeira vez que alguém resolveu trazer a alma da Amazónia para o Metal, e o resultado foi espectacular. Daí em diante não mais os Sepultura largaram as suas raízes índias, sempre patentes na percussão.


Versão acústica da Kaiowas, tal como a tocaram para o chefe da tribo dos Xavantes, pouco depois de a comporem, e que lhes valeu um elogio enorme do ancião. Para mim - e certamente para a banda - valeu mais esse elogio do que qualquer crítica dita 'especializada' posterior.

Para além da componente musical inovadora, esta música passa também uma das mensagens mais fortes a nível político e social, porque não se 'limita' a transmitir as frustrações individuais dos elementos da banda ou da camada de população que com eles se identifica. "Kaiowas" é o nome de uma tribo brasileira que cometeu suicídio colectivo, como forma de chamar a atenção do mundo para o facto de o governo brasileiro lhes querer retirar as suas terras e identidade, e esta música é uma sentida homenagem à sua coragem e determinação.

Mas nem só da "Kaiowas" se faz o "Chaos A.D.", e nem só de "Chaos A.D." se faz Sepultura. O álbum que se lhe seguiu não lhe ficou muito atrás: "Roots" também foi um álbum marcante na história do Metal. Destaco, para começar, a faixa "Ratamahatta". Simplesmente genial e contagiante. E para continuar, recomendo as eternas "Roots, Bloody Roots" e "Attitude". Sempre com o característico apontamento tribal, pois claro.


A promoção deste "Roots" foi de uma dimensão tão brutal quanto o álbum. O desgaste resultante disso (a par de outras questões) levou a melhor, e após um desentendimento entre a banda e a sua manager, Max Cavalera acabaria por se desligar dos Sepultura. Misturar família e negócios raramente dá certo...

Nunca mais foram os mesmos, ainda que tivessem tentado - e ainda que continuem a tentar hoje em dia. E a situação veio a deteriorar-se ainda mais, com a mais recente saída do outro irmão Cavalera, o baterista Igor. O que agora existe são uns novos Sepultura, que pouco têm a ver com os originais. Fazem um som que, embora não sendo mau, não é nada comparado com o que já fizeram antes. O problema é que o Max não era só o vocalista (e guitarrista). Era a própria alma da banda, a sua espinha dorsal. De modo que arranjar-lhe substituto não só se revelou uma tarefa ingrata, como provou não ser possível. Andreas, Igor e Paulinho ainda tentaram subsistir como trio, com o guitarrista a assumir a voz. Mas quando Andreas viu que não tinha perfil para vocalista, pelo que decidiram arranjar outro vocalista - o americano Derrick Green.

Hoje Max segue o seu caminho em dois projectos diferentes: os já conhecidos Soulfly, e os novos The Cavalera Conspiracy, juntamente com Igor Cavalera.
Quanto aos Sepultura propriamente ditos, prosseguem igualmente com a sua carreira e desde então contam com 4 álbuns editados: "Against" (1998), "Nation" (2001) , "Roorback" (2003) e "Dante XXI" (2006).

"Convicted in Life", do último álbum, "Dante XXI". Um vídeo excelente para uma música razoável. Atentem para o pormenor dos pés do baterista.

Não serei fundamentalista ao ponto de afirmar que Sepultura nunca mais foram (ou serão) bons desde o desmembramento. Têm o seu público, que os segue em concertos e compra os álbuns, e as malhas antigas ainda se ouvem bem ao vivo. Simplesmente... ouvem-se melhor ao vivo pela mão de Soulfly, por exemplo, como tive oportunidade de confirmar em Vilar de Mouros (2006). E se calhar até pela mão dos recentes Cavalera Conspiracy - tenho curiosidade em ver esses em concerto, confesso. A vontade de ver os irmãos Cavalera novamente reunidos era bastante, e o álbum de estreia... Bom, esse ficará para outro MFA. :-)
Até lá, fiquem com uma cover dos míticos Mötorhead (a banda da verruga mais feia do showbiz), "Orgasmatron".


http://sepultura.uol.com.br/v6/pt/
http://www.myspace.com/sepultura

Pass: galaxiamusica.blogspot.com

Escolha da semana:

Um cheirinho do novo de Moonspell que está para sair a 19 de Maio - "Night Eternal"

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Anonymous Anónimo: sinceramente, nao gosto de quase nada dos sepultura desde a saida do max.
gosto dos soulfly desde k começaram e nota-se que o genio da banda minha mesmo quase todo dele.

mas agora andam aí os cavalera conspiracy e vamos ver no que dá. quanto a sepultura, passou pa segundo plano e crio k daí ja nao se levanta mais. 04/04/08, 19:14  

Anonymous Anónimo: sepultura é um dos meus grupos desde sempre, mas infelizmente, com a saída do max deixei de conseguir ouvir. parece que perdeu toda a sua essência, e não foi com soulfy que ela se recuperou. talvez agora com os cavalera conspiracy, mas tenho as minhas dúvidas.

grande artigo sobre esta grande banda ;) 06/04/08, 23:43  

Blogger Lex: Eu também deixei de lhes prestar a mesma atenção depois da saída do Max. Acho que foi um fenómeno generalizado, a banda estava muito ligada ao indivíduo, quer se queira quer não.

Agora com os Cavalera Conspiracy havia uma hipótese de recuperar o poder que os irmãos tinham... mas pelo menos para já, com o álbum de estreia, não me parece que tenham conseguido isso. Talvez em próximos trabalhos, vamos a ver... 07/04/08, 09:53  

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