... and Metal for All: Hell Summer Fest - review
publicado por Lex

Às vezes o underground parece estar mesmo determinado a não se abrir a mais ninguém.

Não discuto se me disserem que não faço ideia da trabalheira que dá levar-se a cabo um festival, por pequeno que seja. Mas a mim parece-me pouco lógico que se desça de cavalo para burro, e quero crer que se este fest não esteve pelo menos ao mesmo nível do Hard Metal Fest de Janeiro passado, foi porque não houve verbas. Verbas para um local com melhor acústica, para um técnico de som melhor, para bandas que chamassem mais um bocadinho de gente. Eu estimei umas 100 pessoas... não andei muito longe da verdade. Segundo a organização, venderam-se 50 bilhetes, e cerca de 30 pessoas eram os membros das bandas e acompanhantes. Verdade seja dita que o local também não daria para muito mais gente, caso houvesse uma afluência semelhante à da última vez.

Claro que este também foi um Hell Summer Fest muito pouco veraneante, e acredito que a chuva persistente tenha afastado muita gente... mas mais gente ainda deve ter sido afastada pela oferta de eventos no mesmo dia, destinados mais ou menos ao mesmo tipo de público.

Seja como for, não dou por perdido o meu dia nem o investimento que foi a gasosa para ir até lá. Compareci principalmente por Filii Nigrantium Infernalium e pelo Carlos dos Cachorros (e pelo belo do porco assado, que lá estava a rodar), e nem o raio da chuva que se fez sentir toda a santa tarde e noite me tiraram esses prazeres.

Quando cheguei, à hora marcada, ainda não estava ninguém lá dentro e muito menos havia sinal de alguma actividade em palco. De modo que aproveitei para dar uma olhadela pelas redondezas, ver as vistas e encontrar um sítio onde pudesse tomar um reles café. Regressei mesmo a tempo de ouvir a última música de D3gr3do, pelo que não vou avaliar a qualidade da banda mas apenas a do som, que já se anunciava muito mau. Contava eu que melhorasse ao longo das actuações, mas enganei-me. Unbridled tiveram exactamente os mesmos problemas que a banda anterior no que ao som diz respeito, pelo que apesar de todo o esforço que puseram na sua actuação, não pude aferir da sua qualidade.

A parte técnica estava amaldiçoada naquele dia, pois os Headstone também tiveram azar. Um trovão a meio da actuação, que até seguia a bom ritmo, mandou abaixo a luz e obrigou a banda a refazer toda a programação e, por conseguinte, a reduzir o seu tempo de palco - que já de si não era grande. Ponto positivo: a Vera, que dedilha ali o baixo como poucos; ponto menos bom: o tipo de voz, que não faz o meu género.

Os Fetal Incest foram a banda que começou por pôr alguma gente a mexer, finalmente. Até aí o pessoal mantinha-se junto à saída (pessoalmente digo que fiquei por ali por ser o local em que o volume de som magoava menos, devido à má qualidade, e só me cheguei à frente quando ele era tolerável) e escusado será dizer que nem sinal de mosh junto ao palco havia. A partir de Fetal Incest, houve três valentes que se puseram lá à frente, mais um ou dois pára-quedistas. Apesar de não ser um tipo de Metal que me desperte especial entusiasmo, diverte-me e nesse sentido cumpriu a sua missão. Ponto positivo para os Fetal Incest, que ainda tiveram a atenção de dedicar uma música a duas personagens que por lá andavam: "às duas emo-girls que andam por aí: goth girls don't say no".

Mas melhor ainda estiveram os Raw Decimating Brutality. Mesma onda, mesmo estilo (e não adianta dizer-me que há diferenças porque um é xpto-metal e o outro é hwyk-metal) e mais genica. A fabulosa "Calhau no Quintal" e a terminar, a não menos espectacular "Charco de Urina". Quem lá esteve tão cedo não se esquecerá do guincho entusiasmado que precedeu esta música, prova de que pelo menos uma verdadeira (ou seria ganzada?) fã estava lá. Ah, de referir a aparição de um novo estilo de crowdsurfing: o "a-few-people-surfing", que consistia no que podem ver no vídeo abaixo. É caso para dizer que quem não tem cão caça com gato. :-D


A ordem das bandas ou não estava definida ou foi alterada na altura, pois foram os veteranos Decayed a entrar antes de FNI e não os Painstruck. Grande prestação, apesar dos constantes problemas de som. Ponto positivo para a "Drums of Valhalla" que, segundo eles, já não tocavam ao vivo desde 1993. Da próxima vez que encontrar Decayed num cartaz, será com gosto que os verei. E já agora, com a expectativa de saber como são com um som decente.


E, finalmente, Filii Nigrantium Infernalium.

Entre malhas antigas e novas, não terão tocado mais de 30 minutos, o que achei francamente pouco. Quando os vi pela primeira vez no Hard Club também faziam parte de um festival, e tocaram o álbum practicamente todo e mais umas músicas do Era do Abutre. Não sei de quem foi a decisão de lhes dar tão pouco tempo, mas enfim... Deu para matar um bocadinho as saudades. Os problemas de som mantiveram-se, mas a prestação foi extremamente positiva. Gostei do novo baterista que lhe dá com enorme pujança, gostei de ver o mítico Mantus (sim, o guitarrista dos Moonspell do tempo do Anno Satanae e do Wolfheart) em palco, ainda que só no fim me tivesse apercebido que era ele, de tão diferente que está o visual, e gostei de ver que o humor do Bela se mantém tão cáustico como sempre. Para encerrar, chamaram ao palco membros de outras bandas ali presentes, para uma grande cover de "L.O.V.E. Machine" dos W.A.S.P. Tudo teria corrido às mil maravilhas se não tivesse sido um desentendimento entre um espectador espanhol, o segurança e, por arrasto, o Belathauzer que chegou mesmo a sair (cair) para o meio do público. Mas a coisa resolveu-se em 3 minutos e o vocalista voltou ao palco para terminar o tema. Saliento a boa atitude do resto da banda e convidados, que prosseguiram a actuação normalmente, evitando assim quebrar o ritmo mesmo enquanto metade do público preferia olhar para a confusão.


Como não me estava a apetecer muito fazer a A25 com aquela chuva e com ainda mais cansaço em cima, depois de dois dedos de prosa com o Belathauzer despedi-me de Mangualde e fiz-me à estrada.

O travo que me ficou deste festival foi bem diferente do de Janeiro. Falhou a afluência de público, falhou o som (desculpem lá estar sempre a bater no ceguinho) e falhou sobretudo aquele sentimento que enalteci na altura: a camaradagem. Para onde quer que olhasse via grupos isolados de poucos membros metidos consigo mesmos, aparentemente aborrecidos, até... Mas sobretudo é triste verificar que ainda há muitos que gastam o seu tempo e dinheiro a ir a estes eventos simplesmente para provocar estragos e chatices, em vez de irem em busca da música ou de sã camaradagem. Nem as bandas nem a organização mereciam isso.

Ficam na memória como pontos positivos o empenho das bandas que eu vi, que apesar das fracas condições não esmoreceram. Espero que a organização também não esmoreça e consiga tornar a oferecer-nos um fest ao nível do anterior. E que nunca se esqueça do Carlos dos Cachorros, pois ainda que desta vez não tenha sido essencial ao nosso aquecimento, foi essencial aos nossos estômagos na mesma.

\m/

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