... and Metal for All: Night Eternal
publicado por Lex

Pois é.

Só mesmo os Moonspell para me arrancarem à minha concentração académica e me trazerem de volta aos textos. É que o novo álbum merece tanto ser devidamente apresentado, como que isso seja feito a tempo. Sai na próxima segunda-feira e não podia esperar mais.

"Night Eternal" é o 9º álbum de originais da banda (ou 8º, se não considerarmos o Under Satanae como um original) e constitui mais um passo seguro no caminho para a afirmação dos Moonspell enquanto banda de Metal de topo. Claro que haverá sempre quem lhes aponte defeitos, isso é natural. Mas também é verdade que cada vez será mais difícil negar que eles crescem a cada álbum - talvez não na direcção que cada um de nós gostaria, mas não obstante, crescem. Evoluem, às vezes mais depressa (como foi o caso das transições "Irreligious"-"Sin/Pecado"-"The Butterfly Effect"-"Darkness and Hope"), outras mais devagar, como é o caso da passagem do álbum anterior para este novo registo. Evoluir devagar não é algo mau; apenas significa que a distância percorrida foi menor. Do "Memorial" para o "Night Eternal" não existe um grande fosso de sonoridades. Existe, sim, um amadurecimento, uma maior preocupação técnica ao nível da produção (que está fabulosa), uma consolidação do caminho que a banda quer trilhar e - porque não? - algumas pequenas notas do passado, para quem estiver mais atento e conhecer os anteriores trabalhos, como que a dizer que não se esquecem de onde vieram. Até um bocadinho de Daemonarch consigo ouvir, ali numa parte da voz da "Spring of Rage" (oiçam a "The Seventh Daemonarch" e depois digam se concordam), bem como a guitarra do Butterfly Effect no início da "Dreamless".
Desde já se pode atribuir um mérito especial à banda, e à máquina por detrás dela, por terem conseguido ser os primeiros a colocar o álbum na Internet. Devem ter descoberto o segredo para conter as fugas de informação, pois só quando as músicas apareceram em stream num widget da editora - aqui - é que os cibernautas lhes puderam pôr os ouvidos em cima. "Se não os podemos vencer, juntemo-nos a eles... mas pelo menos que sejamos nós a dar as cartas". Bem jogado.

Mas o mérito maior deve-se sem dúvida à qualidade do trabalho que nos é aqui apresentado.

O tema do Feminino parece assentar em Moonspell como uma luva, por alguma razão, pois as nove faixas que compõem o corpo principal do álbum sucedem-se com uma homogeneidade assinalável. Há momentos mais fortes, mas não há momentos fracos daqueles que nos façam passar à música seguinte. Isso não aconteceu com o "Memorial", cujas "Luna" e "Sanguine" sempre me fizeram torcer um pouco o nariz, e nesse aspecto "Night Eternal" sai já a ganhar.
Também sai a ganhar no primeiro single escolhido. Ao escutar "Scorpion Flower" será talvez inevitável, para quem conheça, fazer comparações com "Luna", por ser o tema mais 'calminho' (por assim dizer), e aquele que vai certamente levar mais folhinhos, rendinhas e suspiros aos concertos. Acreditem que tremo ao imaginar a cena que acabei de descrever, mas... que se lixe.

Ao contrário da "Luna", "Scorpion Flower" é das melhores coisas que os Moonspell já fizeram, dentro do seu próprio registo (claro que não se pode comparar a uma "Alma Mater", são campeonatos completamente diferentes). É uma música cativante, viciante e cantável (o que para quem não consegue fazer growls decentes como eu é uma mais-valia). O riff está fabuloso e a dupla com Anneke Von Giersbergen (ex-The Gathering e actual Agua de Annike) foi das melhores colaborações que eles podiam ter arranjado. Deixa a Sophia dos Cinemuerte a léguas de distância - a moça que me perdoe a sinceridade. Aliás, já a Carmen Simões tinha deixado a Sophia a milhas antes, de resto...

Um vídeo espectacular para uma música fabulosa. Desde os gráficos até às interpretações, cenários fantásticos (notem o fabulástico que é o escorpião crucificado)... e uma prendinha para os meninos. Ou melhor, duas prendas.

Curiosamente (ou não), ambos os nomes que acabei de mencionar, juntamente com Patrícia Andrade (ex-Volstad e actual The Vanity Chair) perfazem o coral feminino que vai acompanhando muitos dos temas do álbum: as Crystal Mountain Singers. O efeito final está muito bem conseguido - e relembro que, geralmente, dispenso as típicas vocalistas femininas do pseudo-gótico tão em voga nos dias de hoje, o que para mim atribui mais valor ainda à escolha que a banda fez de ter vozes femininas espalhadas neste trabalho.

Os dois temas escolhidos para serem os primeiros a dar a cara por "Night Eternal" no MySpace da banda foram, precisamente, "Scorpion Flower" (que arrebatou desde logo milhares de ouvintes e está agora aí fora com o vídeo que viram ali em cima) e a faixa que dá o título ao álbum. "Night Eternal" não é um tema fraco, nem por sombras - é dos melhores de todos e já agora, à laia de curiosidade, tem a participação de Niclas Etelävuori dos Amorphis no baixo. Mas não é A grande malha deste disco. Esse lugar está reservado à faixa de abertura, "At Tragic Heights".

A guitarra está em alta neste trabalho. Penso que o Ricardo Amorim atingiu aqui um novo patamar na sua maturidade compositiva: Conseguimos já ouvir uma guitarrada desconhecida e descobrir que é dele, pois estabeleceu finalmente um estilo próprio que domina com uma técnica cada vez mais apurada.
"Night Eternal" só peca, para mim, em dois aspectos: pouco baixo e bateria algo tímida, quando comparada com a do Antidote. Sinto a falta daquele Mike quase tribal de uma "From Lowering Skies", por exemplo. A percussão está eficaz, sem dúvida, e tem bons momentos, mas no geral fica a impressão de estar ali a fazer não mais do que o básico. Assim como o baixo. D. Aires Pereira merecia mais. Fica talvez para uma próxima.


Não me vou alongar em descrições música a música. O álbum está aí para se ouvir mas sobretudo para se sentir... não tanto para se dissecar em análises.
Alguém já me disse que o sente mais negro do que o anterior. Na altura hesitei em concordar, não sentia nada disso. Ainda arranjei uma explicação 'lógica' para que assim fosse: porque a primeira luz só aparece no fim do álbum (ora vão lá ver o título da última faixa para perceberem a magnífica densidade desta teoria...), mas mesmo assim não o sentia nada assim. Só mais tarde percebi porquê.



Para mim este álbum é como a catedral gótica que aparece no video da "Scorpion Flower". Como a maioria das catedrais góticas, de resto: imersas na penumbra, mas pontuadas por raios de luz que atravessam os vitrais aqui e acolá. E tal como me acontece quando vou a uma dessas catedrais, dei valor em primeiro lugar a esses apontamentos luminosos, e só depois à escuridão que com eles contrasta.

Ouçam-no, vejam-no (o segundo vídeo deve estar aí a sair) e sigam-no. Quem puder tem a oportunidade de ver o primeiro concerto de Moonspell em terras lusas com este álbum no Rock in Rio, dia 5 de Junho. Não vão ser cabeças de cartaz, vão dispôr portanto de menos tempo do que o que seria desejável, e vão tocar à luz do dia como aconteceu da outra vez... mas valerá a pena de qualquer modo. Quem não tiver o constrangimento logístico de morar longe e de o concerto ser a meio da semana, que faça o favor de vir aqui contar como correu. :-)

Pass: galaxiamusica.blogspot.com

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Blogger NunoTaker: Tambem eu sou um grande fã dos Moonspell e acho que ha uma musica em especial que é pouco falada e que é algo menosprezada que é a Best Forgotten... O Mike está fabuloso na bateria nessa musica assim como em todo o Memorial em si. Gostava de saber se compartilhas a minha opiniao :) Cumprimentos 20/05/08, 21:31  

Blogger Lex: Por acaso a "Best Forgotten" foi das músicas a que dei mais atenção no Memorial. Foi essa e a "Once it Was Ours", que a mim me agradou bastante mas que à maioria do pessoal parece ter passado ao lado. Guardo na memória a vez única em que as vi ao vivo, na apresentação do álbum no Hard Club.

Concordo que o Mike no Memorial esteve um ponto mais acima do que neste álbum - daí eu ter dito que gostaria que tivessem optado por uma bateria mais ousada. Segundo tenho lido e ouvido, parecem ter havido cedências de parte a parte dentro da banda, porque uns queriam algo mais pesado enquanto que outros - nomeadamente o Fernando Ribeiro - preferiam algo mais melódico. O que se obteve terá sido portanto um meio termo, que não resultou mal.
Mas cá eu teria gostado ainda mais do álbum se tivessem deixado o Mike dar largas áquilo que sabe fazer tão bem. :-) 21/05/08, 19:39  

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