... and Metal for All: 14º Mangualde HMF
publicado por Lex Hoje apetece-me fazer uma review de algo que tenha visto nos últimos tempos. Hesitei a decidir-me sobre o quê... Por um lado tinha o "Música no Coração", que é um musical com muita qualidade e interesse; por outro lado, tinha uma coisita que fui ver no passado fim de semana... Bom, como já toda a gente está careca de saber que no fim a Maria fica com o Von Trapp e mais um porradão de filhos, decidi-me pela 2ª opção. Espero ter acertado. The hills are alive, la-ra-la-la-laaa... Eu não gosto do dito underground só por ser underground. Para eu gostar, tenho que ver naquilo alguma virtude, qualidade, etc, etc. E por isso, a máxima "há que apoiar o underground!" é para mim coisa pouco consistente, só por si. Mal o som terminou, fomos buscar as nossas pulseiras e aventurámo-nos no reconhecimento do recinto. Esperava-nos um pavilhão revestido a azulejo azul e branco até 1 metro do chão, e cujo palco era emoldurado por cortinados cor de rosa. Perfeito. :-D Havia bastantes bancas de merchandise e de CD's a preço de ocasião (ou quase, pois Ava Inferi a 17€ não é bem aquilo a que eu chamo 'ocasião'), e um recanto destinado ao vício do álcool, que a meio da noite já estava rodeado de uma valente poça de cerveja. Nota positiva para a estratégia da organização relativamente ao sempre cobiçado néctar: ter Sagres Chopp como única opção foi bom para mim que saciei a sede o quanto quis sem perder a lucidez, e bom para as vendas. Só foi pena ter sido Sagres e as máquinas estarem todas maradas, mas não se pode ter tudo. As bandas sucediam-se a bom ritmo, sem grandes compassos de espera. Seguiu-se um nome de cuja música eu só conhecia umas amostras ouvidas no MySpace: os espanhóis Angelus Apatrida. Sabia que practicavam um thrash old-school, e bastou-me isso para decidir que não iria querer perder a sua actuação. Com alguns fans da sua terra natal a apoiarem-nos logo na primeira fila, acabaram por se sair melhores que a encomenda, demonstrando no palco grande competência enquanto músicos, e deixando no ar um travo forte a 'colagem' aos Metallica do "Kill 'em All" e a uma profunda admiração por Dave Mustaine, desde a estrutura dos acordes até aos modelos de guitarra usados. Pois se para muitos essa' colagem' foi uma desvantagem, a mim soube-me pela vida! Especialmente no último tema, uma cover que desfez quaisquer dúvidas quanto às influências destes hermanos: "Metal Militia" dos Metallica. Foi algo de fabuloso ter podido ouvir isto ao vivo e bem tocado. Voltem sempre! Sem perder tempo, entram os portugueses Desire, fazedores exímios de Doom Metal. Tão exímios que eu decidi fazer da sua actuação o momento do meu jantar - algum teria que ser, e o porco assado no espeto estava a gastar-se. Acho que é oficial: doom não é o meu campo. Next: Decadence. Não fazia ideia do que esperar destes suecos, fui para lá completamente às cegas, pelo que quando vi entrar uma menina alta, magra e loira para a posição de vocalista, colei-me ao palco e não descansei enquanto não soube o que ia sair dali. Tanto podia dar para uma lamechice pegada como para uns guturais à Gossow. Deu para uns guturais, não exactamente à Gossow, mas nas redondezas. A miúda ainda é nova, tem muito tempo para se aperfeiçoar - bem como o resto da banda, ainda são relativamente novos nestas lides. Entretanto a vocalista Metallic Kitty vai enfeitiçando o público (masculino, principalmente) com uma cabeleira de cerca de metro e meio de comprimento, que ondula como se pode ver na foto. Com uma setlist encurtada por problemas técnicos e - digo eu - pela agitação de um cromo do público que insistia em subir para o palco, tendo inclusive estragado um pouco da actuação de Decadence com as suas palhaçadas, os suecos deram lugar aos belgas Leng Tch'e. Primeiro vocalista careca da noite. Após cerca de uma hora de concerto, abria-se espaço para a banda que levou muita gente a Mangualde naquele dia: os finlandeses Impaled Nazarene. O segundo vocalista careca da noite. Não percebo como é que com um soundcheck (aparentemente) tão cuidado o som pôde falhar tanto. Estava de tal modo sofrível que a dada altura já não era música mas somente barulho - e olhem que para eu dizer isto... imaginem. A voz deixou pura e simplesmente de se ouvir e as guitarras... era como se não estivessem lá a fazer nada. Portanto fui ter com o meu amigo Impaled Pig, que ainda rodava lá fora no espeto, já quase só osso. Foi pena, porque até tinha conseguido um lugarzinho empoleirado ao pé do palco, protegido do moshpit... Mas há ocasiões em que não vale a pena o esforço, e esta foi uma delas. Para finalizar, os míticos Mata-Ratos. Terceiro vocalista careca da noite. :-) Só tive pena de uma coisa: de o cansaço já ser demasiado para me deixar embrenhar no espectáculo devidamente. Mais de oito horas ali em pé a curtir de (quase) todo o tipo de Metal fizeram-se sentir finalmente e eu já não aguentei até ao fim, até porque ainda tinha a A25 pela frente. Mas do que ainda vi, deve ter sido o concerto com maior adesão de todos. Suponho que um clássico como Mata Ratos tenha sempre público garantido. Ali não foi preciso o vocalista pedir um moshpit - ele abriu-se naturalmente, como se o pessoal tivesse estado a guardar-se para eles o dia todo. Não deixa de ser curioso que num festival de Metal tenha sido uma banda de punk a obter o maior sucesso... Do lado de fora do pavilhão o céu não podia estar mais estrelado, nem a noite mais fria. Alguns carros por ali estacionados tinham já os vidros embaciados e as brasas arrefeciam debaixo espeto, finalmente, enquanto um cão feliz levava os ossos para casa. Para trás ficava uma tarde e noite bem passadas, entre uma camaradagem que, me parece, já só existe nestes eventos de menor dimensão, onde parece que toda a gente se conhece há anos e toda a gente se fala na boa, desenrasca o próximo, onde se pára o moshpit quando se encontra uma carteira perdida no chão e não se retoma até se encontrar o dono, se levanta o companheiro de moshada quando ele cai, se pede desculpa a toda a gente por se ter subido ao palco durante uma actuação (aproveitando para explicar metade da sua vida, de caminho), onde os elementos das bandas que estiveram em palco vêm cá para baixo ver a actuação das outras bandas a seguir, e comem na mesma roulotte que o resto do público, sem vedetismos... É um pouco como dizem os Manowar, de facto: Let us drink to the power, drink to the sound É também por isso que gosto do Metal. Um enorme bem-haja também ao Sr. Carlos e companhia, que nos saciaram a fome com uns cachorros, hamburgueres e sandes de porco no espeto que eram uma categoria. E mais uma palavra de apreço ao próprio porco no espeto, que para além de nos dar a sua carne, nos deu também o calor do lume que o assou lentamente por várias horas, para nos aquecermos quais sem-abrigos em noite gélida, quando vínhamos cá fora fosse para saciar o vício da nicotina ou para aliviar os tímpanos, quando o som já não se aguentava após tantas horas de exposição aos decibéis. Estas pequenas coisas ficam-nos na memória, curiosamente.
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Fátima Inácio Gomes: Maravilhosa review, como sempre!!!!
Quase que vivi tudo de novo! Gostos à parte :D coinseguiste passar aquilo que verdadeiramente interessa no meio disto tudo... o espírito do Metal! A sua verdadeira essência: festa! 18/01/08, 10:16 Sea B. A.K.A. Timba: ainda na li tudo mas desde já uma cena. Leng Tch'e é Grind e não Metalcore 18/01/08, 19:28 Lex: Pedro, nem vou contrariar isso. A minha vontade até foi escrever "[whatever]core", porque para mim os 'cores' são todos muito semelhantes. :D Escolhi um prefixo que me parecesse mais abrangente... Foi ao lado, paciência. :-P Rótulos para mim são um castigo, especialmente quando o meu objectivo para a crónica é algo mais na onda daquilo que ali a Fátima disse: realçar o ambiente. 18/01/08, 20:42 Talionis: É isso. Sem tirar nem pôr. Os acontecimentos, e sobretudo, os sentimentos vividos. Tens que começar a ir a pelo menos um concerto/evento por semana e transformar este espaço (ou criar um novo) apenas em reviews destes momentos, porque de facto transportas o leitor para o local, fazendo-o viver (ou reviver) o que aconteceu. 19/01/08, 01:09 Lex: "Tens que começar a ir a pelo menos um concerto/evento por semana" Óptima ideia. Aceitam-se financiamentos. Ouvi dizer que lá mais para o Verão vai haver uns festivais porreirinhos em Lagoa, França e Alemanha... :-] Quem quiser o meu NIB, é só dizer. 22/01/08, 09:12 |
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