... and Metal for All: Cradle of Filth
publicado por Lex

Não tenho dúvidas que os Cradle of Filth são das bandas de Metal mais malditas que aí andam. A maioria das pessoas com quem falo sobre eles não hesitam em acusá-los de se terem vendido a dada altura da sua carreira, e são rápidas a dizer que já morreram há muito. Ora, da mesma maneira que eu sei porque é que digo o mesmo de Metallica (já o expliquei aqui), acredito que essas pessoas também terão os seus motivos, perfeitamente legítimos, para estarem desiludidas com a banda.
Para além disso não é fácil engavetá-los num tipo de Metal - nem são black, nem são gótico, nem death nem sinfónico... Talvez sejam uma mistura de todos ou então um género totalmente novo criado por eles próprios. Isso também é coisa para não agradar a muita gente, acham que lhes falta definição... Eu acho que têm é originalidade.

Eu tive (talvez) a sorte de os conhecer mais a fundo há apenas 5 anos. Antes disso, há muitos anos, já tinha ouvido umas coisas mas o meu ouvido não estava ainda maduro o suficiente para eles, pelo que só aquando do lançamento de "Nymphetamine" (2003) ganhei algum interesse pela banda de Dani Filth, o vocalista mais odiado do Metal - ora porque tem mau feitio, ora porque é baixinho, ora porque tem uma voz intolerável... Enfim, razões não faltam, por falaciosas que algumas possam ser.

Para mim esta banda é um dos bons exemplos de preserverança e evolução no panorama geral do Metal, e do black mais especificamente. Talvez nem sempre tenha optado pelos melhores caminhos, correu riscos e talvez tenha tido alguns flops entre os seus álbuns, mas as sucessivas complicações com editoras e as constantes alterações ao line-up da banda são factores que creio não andarem muito alheios a esses factos. Apesar disso tudo, eles continuam aí a fazer música que eu gosto de ouvir, re-ouvir e tornar a re-ouvir.
Não vou hoje deixar aqui uma biografia. Há sites que cumprem essa tarefa bem melhor do que eu poderia fazer, e para além do mais o que me interessa é divulgar aquilo que eu acho que estes tipos têm de melhor em termos de Música.

"Her Ghost in the Fog"

Os CoF conquistaram o seu lugar nas minhas preferências a pulso. Em 2005, após um álbum que considerei muito bom, mas não excelente - o "Nymphetamine" - vieram ao Porto para um concerto francamente fraco no Coliseu. Quem lá esteve ainda hoje o elege como um dos piores dos últimos tempos, e não sem a sua razão. O som estava péssimo e impossibilitou practicamente qualquer tipo de apreciação do resto do espectáculo. O ponto positivo ficou reservado para um certo aparato visual composto de uma bailarina 'aérea', de uma marionette fabulosa de um monge, tamanho gigante, e de uma amostra de fogo em palco que me fez soltar uma risada quando me lembrei do conceito de 'pirotecnia' dos Rammstein. Fora isso, fiquei com vontade de limitar a minha experiência Filth'iana aos álbuns de estúdio.
No ano seguinte aparecem integrados no cartaz da memorável 35ª edição de Vilar de Mouros, juntamente com outros nomes que me puxaram para o festival, pelo que lá me pus na 1ª fila à espera de uma prestação fraca.

Mas saí de lá com uma agradável sensação de conforto. Afinal os Cradle não eram tão maus quanto eu me lembrava! O som conseguiu ouvir-se muito melhor, não houve tantos adereços de palco mas a entrega da banda foi outra, muito mais empenhada. O próprio Dani, quiçá ajudado pelos resquícios etílicos absorvidos antes de entrar em palco, estava muito mais comunicativo do que no Coliseu e saiu-se para lá com umas tiradas humorísticas inesperadas. No final o balanço foi positivo, pelo que não hesitei quando foram postos à venda os bilhetes para aquele que seria o meu terceiro concerto de CoF no espaço de dois anos.
Em Novembro de 2006 a banda vinha ao Hard Club (paz à sua alma) promover o seu mais recente álbum, "Thornography", e eu não podia perder esse espectáculo. Eu tinha adorado o trabalho, as músicas ainda estavam frescas e insistentes na minha cabeça e a curiosidade de saber como seriam ao vivo moía-me. Todas as expectativas foram cumpridas, o concerto deixou-me de boca aberta durante um bocado e no final ainda tive o bónus de um meet n' greet com a banda, onde pude comprovar que, de facto, o Dani talvez se apoie demasiado na fama ganha ao longo de tantos anos de estrada e estúdio (ou então estava apenas num mau dia), mas o resto dos membros são pessoas tão normais e acessíveis quanto eu ou vocês.


Isto tudo para dizer que, ao contrário do que acontece com a maioria das bandas, em que a primeira vez é quase sempre a mais espectacular, com Cradle of Filth a qualidade veio sempre a melhorar, no que diz respeito aos concertos.
Mas e em estúdio?


Embora tenha gostado muito dos dois últimos trabalhos, continuo a considerar o "Cruelty and the Beast" como o ponto alto da carreira da banda. É lá que está aquela música capaz de me tirar do sério: "Cruelty Brought Thee Orchids".

Isto, meus caros, é sublime. Isto é o enegrecimento (se o conceito não existia, passa a existir) de uma sinfonia, com todos os componentes, andamentos e trejeitos de uma obra clássica de um 'qualquer' Mozart. Mas isso não é propriamente novidade em CoF, eles sempre foram exímios classicistas, e não o digo apenas baseando-me nos segmentos orquestrados ou nas faixas instrumentais que eles sempre gostaram de incluir nos seus discos. Digo-o depois de escutadas várias músicas com estrutura muito semelhante às de Vivaldi, Bach ou Chopin. E esta "Cruelty..." é simplesmente do melhor que já fizeram, desde a composição musical à lírica. Elisabeth Bathory, a condessa sanguinária, tem servido de inspiração a muitas bandas de black Metal devido à história da sua conduta, castigo e morte. Mas os Cradle usam essa inspiração de um modo muito seu, transpõem essa história em palavras que só o Dani Filth, no seu mau feitio e genialidade poética, poderia conjugar.

Tanto as palavras que são ditas, como também o modo como são ditas, são factores que contribuem enormemente para o apelo desta e de outras músicas de CoF. Poucos vocalistas se dão ao trabalho de articular as palavras com tanto cuidado (em estúdio, pelo menos). Elas são disparadas como tiros em direcção aos nossos ouvidos, com uma trajectória definida e segura. E ainda quanto à voz, justiça lhe seja feita pois é uma das mais versáteis no mundo da Música. O homem viaja por todas as tonalidades com uma facilidade incrível, desde as mais guturais e cavernosas às mais agudas e estridentes. Obviamente que tais exercícios vocais ao longo de tantos anos têm o seu preço... Hoje em dia ouvir Dani Filth ao vivo já não é certamente o mesmo do que tê-lo ouvido há 6 ou 7 anos. Garganta nenhuma aguenta ser arranhada tão insistentemente sem dar de si.

"From the Cradle to Enslave". Não arriscarei nada se disser que esta é outra das grandes músicas do Metal, e o vídeo não lhe fica atrás. É bizarro, perturbador e mórbido. Susceptível de vos provocar pesadelos quando menos esperarem. Estão avisados. :-D

Neste momento está em preparação aquele que será o 8º registo de originais da banda inglesa. Entretanto foi lançada uma edição especial do último álbum: "Harder, Darker, Faster - Thornography Deluxe" conta com alguns temas extra e mais uma data de surpresas.
A mim trouxe-me uma bastante agradável: uma versão da nostálgica "Stay" dos Shakespeares Sister, de 1992, e que é material para agradar a muita gente, mesmo que não seja fã de Cradle ou sequer de Metal.


"A banda sonora para o Universo e todos os seus infernos prestes a explodir..." - esta é a definição dos CoF para a música que eles próprios fazem. Pessoalmente oiço nela algo mais de criador do que de destruidor... Esta é mais uma das boas coisas acerca da música desta banda: permite a cada um moldá-la ao gosto dos seus próprios demónios interiores... ou anjos, conforme seja o caso.

"Born in a Burial Gown"

http://www.myspace.com/cradleoffilth
http://www.cradleoffilth.com/

Pass: galaxiamusica.blogspot.com

Escolha da semana:

Anthrax - "Only". Uma das boas malhas que me acompanhou na descoberta do Metal, há muito, muito tempo... era eu uma criança... que brincava num baloiço e ao pião...(oops, isto já é José Cid, não liguem).


\m/

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Blogger Sea B. A.K.A. Timba: Tenho que admitir, Cradle foi uma das bandas que me trouxe ao Metal mas, já não me diz nada... Talvez seja um bocado pelo facto de neste momento serem uma banda que pelo que vejo são tudo menos uma banda para se ver em palco, não sei...

Já agora, novamente grande escolha da semana 29/02/08, 00:55  

Blogger Talionis: Acho que Cradle é sempre um mistério, quando falamos da experiência ao vivo. Já vi muito bom, já vi muito mau. No geral, será sempre pela experiência de ver a banda, para fans, mais do que por uma boa experiência de um bom concerto. Mas da próxima vez que tocarem pelos meus lados, lá estarei.

Em estúdio, continuam mestres. Tenho gostado dos últimos trabalhos, nomeadamente estes dois últimos. Mas como qualquer outra pessoa, Dusk e Cruelty são as verdadeiras obras de arte.
Do Damnation e do Bitter Suites não consigo mesmo gostar (salvo raras excepções), mas por exemplo o Midian também foi algo que não gostei quando ouvi pela primeira vez, mas aos poucos fui começando a gostar cada vez mais. Neste momento a Tortured Soul Asylum não me sai da cabeça... e tem sido essa a minha vivência com os Cradle. Sempre a descobrir coisas novas por entre o seu passado.

Talvez por isso serão sempre uma referência para mim. 01/03/08, 00:38  

Blogger Lex: "pelo que vejo são tudo menos uma banda para se ver em palco, não sei..."
Retenho mais fresca na memória a última actuação que vi, em 2006. E lembro-me de me ter espantado com a boa qualidade da execução no geral: desde os veteranos (Allender e Pybus) aos mais novatos (a Rosie nos teclados e o Martin na bateria, que tinha entrado para a banda há apenas escassas semanas). E realço também a excelente prestação da back-vocal Sarah Jezebel Deva, já imprescindível na banda e senhora de uma presença enorme (fisicamente e não só :-D).

Sei que as pessoas costumam ver a banda como sendo só o Dani Filth, mas há mais para além dele, apesar de ser o seu mentor e de assumir claramente a liderança.
Acredito que se conseguires olhar ao resto, podes ficar surpreendido num concerto deles. :-) Questão de tentar, se calhar...
Tecnicamente são muito, muito bons. Só quando o som não ajuda (como aconteceu nos Coliseus em 2005) é que saem prejudicados. 02/03/08, 22:14  

Anonymous Anónimo: para mim Cradle é das poucas bandas que me surpreende a cada musica. Têm um estilo diferente, que combina os dois mlhores lados do metal, o black e o melodico. comecei por ouvi-los com o damnation, mas depois de ouvir outros como o midian descobri que nao ha igual!... a nymphetamine então, é simplesmente fantastica!

\m/ fikem, e mais uma vez grande escolha! 05/03/08, 00:21  

Anonymous Anónimo: tmb concordo que "Cruelty and the Beast" é absolutamente genial. Quem me dera que eles fizessem todos os discos assim. É realmente a personificaçao de Mozart e Vivaldi no Metal. Os orgãos, a voz dele, as guitarras...não sou capaz de descrever. Quanto aos outros discos não sinto tanto como esse, mas são bons obviamente. Ouvi a dias trechos de um novo disco deles, que tem um narrador em todos os temas...não percebi bem o que se passa ali, mas a primeira audiçao nao gostei de muitas faixas. A musica é eterna, por isso...é impossivel odiar os Cradle agora, vendo o passado que eles tem. Mas que estão diferentes lá isso estão...e mesmo como dizes, seria complicado a voz do Dani se manter igual. Ainda assim, um verdadeiro idolo... 21/12/08, 01:23  

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