... and Metal for All: Festivais
publicado por Lex

Hoje não vos venho dar música; venho antes fazer como o velho sábio chinês Lao Tzu e ensinar-vos a pescá-la - que é como quem diz, indicar-vos o caminho para irem ter com ela, o que acaba por ser muito mais proveitoso. Venho falar-vos do panorama dos festivais em Portugal, perante um boom que se tem verificado - e que se continua a verificar - nos últimos anos, no campo do Metal.

Lembro-me muito bem do tempo em que Portugal não tinha festivais de música de qualquer género, com excepção das festas da paróquia no Verão, dedicadas ao emigrante. Caramba, qualquer anúncio da vinda de alguma banda estrangeira - em qualquer altura do ano - era uma festa, e o pessoal babava-se à mera menção de um Wacken ou de um Monsters of Rock, que eram miragens longínquas para a grande maioria. Se conhecíamos alguém que tivesse ido a algum desses festivais no estrangeiro, tornava-se practicamente no 'nosso herói'. Curiosamente, foi quando a ida a esses festivais se tornou potencialmente mais fácil (ou seja, mais barata, com o advento das companhias aéreas low-cost) que se verificou um crescimento de eventos dedicados ao Metal feitos em Portugal.
Mas vamos por tempos.

No princípio era o Ermal. Local paradisíaco onde as hordes metaleiras temperavam os dias de festa com o seu precioso e característico néctar de cereais. Muitos e bons nomes por lá passaram: Morbid Angel, Marilyn Manson, Moonspell, Cathedral, Ratos de Porão, Tiamat, Grave, Entombed, e tantos outros... Desde 1999 muitas foram as pessoas que de lá guardaram boas memórias, mas um dia alguém decidiu que aquela zona era boa demais para se limitar a acolher uns milhares de delinquentes vestidos de preto uma vez por ano, para se embebedarem, drogarem e ouvirem um ruído estranho, e que seria melhor aproveitada se lá fosse feito um qualquer resort de luxo. Hoje não sei em que ponto está essa ideia peregrina, mas na altura ficou estabelecido que a especulação imobiliária matou o Ermal. Isso e muito provavelmente o apedrejamento (e abatatamento, porque não foram só pedras que se atiraram) aos Nickelback. Mas disso nunca mais ninguém falou. Entretanto houve quem se pusesse a mexer, e neste momento existe uma forte intenção de ressuscitar o festival para o ano que vem. Cá eu fico a fazer figas, pois apesar de nunca ter tido oportunidade de marcar presença no Ermal, é algo que ainda hei-de querer fazer. Quem quiser dar o seu bitaite, pode fazê-lo no blog criado para o efeito.

Houve também pela mesma altura o Carviçais, nos confins de Trás-os-Montes. Moonspell, Mão Morta, ThanatoSchizO, Anger e Ramp foram alguns dos nomes que marcaram presença por lá. Na sua última edição o festival virou inesperadamente para o hip-hop e o reggae... e depois disso desapareceu do mapa, tanto quanto eu saiba.

Vilar de Mouros também ressuscitou de um marasmo de vários anos em 1996 com pelo menos um dos seus dias dedicado às sonoridades mais extremas. Rammstein, Iron Maiden, Megadeth, Katatonia, Sepultura, Cradle of Filth, Moonspell e Soulfly foram alguns dos nomes mais pesados que agitaram os pastos de Caminha. Até Paredes de Coura, que nunca assumiu ser voltado para os metaleiros, chegou a ter também nomes como Korn (nos tempos em que eram uma novidade de peso), Motörhead e Moonspell antes de virar para o indie completo como sucedeu o ano passado.

Isto foi no passado. Actualmente tem havido um dia reservado ao Metal tanto no Rock in Rio como no Super Bock Super Rock - correndo sempre o risco de se ter lá pelo meio algum híbrido, mas enfim... há que rentabilizar os eventos, acima de tudo, senão nem mesmo estes subsistem, apesar dos pesares...

O panorama já é mais animador se enveredarmos por caminhos menos mainstream. É que ainda há gente que organiza festivais de música sem se importar (aparentemente) em ter muito lucro - basta-lhe que não tenha um prejuízo irremediável, suponho. Destinados a um público mais underground, há já 11 anos que o Barroselas Metalfest anda a agitar as hostes negras e o Caos Emergente já dura desde o ano 2000. Não podemos esquecer também o pequeno mas persistente Mangualde HardMetalFest, que já vai na sua 14ª edição - e sobre a qual tive oportunidade de falar aqui. Embora não seja um evento tão sazonal como os outros, é igualmente merecedor de destaque, tal como inúmeros outros organizados pelas Produções Rocha, nome a reter no que a fests de Metal diz respeito.

Mas foi mais recentemente que Portugal viu nascer dois dos mais jovens e promissores eventos do país: o Metal GDL e o Lagoa Burning Live.

Respectivamente localizados em Grândola (Setúbal) e em Estômbar (Lagoa), têm a relativa vantagem de se localizarem fora dos grandes centros urbanos. Exigem um maior esforço de deslocação para a maioria das pessoas, é certo, mas ir à aventura faz parte da experiência festivaleira, e digo-vos eu que ninguém devia passar sem se perder no monte a meio da noite à procura do carro para voltar para casa... Coisa que os inúmeros festivais urbanos entretanto criados desvalorizam. Fartos de passar o ano inteiro enfiados em cidades fumarentas já nós estamos... ou não?


Começando pelo Metal GDL: iniciou-se em 2006 com um formato de entrada livre e apostando na prata da casa, tendência que se manteve no ano seguinte, mas já com entrada paga. Moonspell, Assemblent e Holocausto Canibal foram apenas algumas das bandas que brindaram o festival com a sua presença. O saldo final foi positivo, e para este ano anunciam-se já Krisiun, Devildriver, Hatesphere, The Ransack, Lay Down Rotten, Corpus Christii, e mais.


Já o Lagoa Burning Live do ano passado contou com Primal Fear e Destruction. Começou com nomes internacionais e desde logo fidelizou uma boa camada de público (apesar daquelas dissonâncias que se podem ler ao fundo do cartaz). Este ano... bom, este ano será a grande surpresa, talvez. Eu não imaginaria que o festival crescesse tanto de um ano para o outro, mas o que é certo é que se prevêem 3 dias de arromba no Verão algarvio. Senão vejam apenas alguns dos nomes confirmados, para já: Angra, Finntroll, Korpiklaanii, Cruachan, Gorgoroth, Leave's Eyes, Moonspell, Obituary, Opeth, Epica, Tankard, W.A.S.P. - e uns personal favorites, os gauleses The Old Dead Tree.

Por estes e por outros motivos vou prestar atenção à evolução desta iniciativa. A mim parece-me fantástico que num país pequeno e pasmacento como o nosso ainda haja quem faça uma aposta desta dimensão, quase a partir do nada, almejando (quem sabe) um dia vir a ter o calibre de um Wacken. Se os resultados de 2007 foram suficientes para a organização abraçar algo muito maior este ano, e pressupondo que o cartaz de 2008 levará ainda mais gente a Estombar, estou para ver o que nos sairá na rifa para o ano de 2009. Só espero nessa altura poder finalmente estar presente. Era quem mandasse os compromissos profissionais e académicos para o diabo que os carregasse...

Deixo aqui também o chamariz para o Barroselas Metalfest deste ano, a.k.a. Steel Warriors Rebellion (SWR). Mas quem quiser ir que se despache, pois as hostilidades na vila minhota começaram já ontem, mas ainda se prolongam até amanhã, continuando uma tradição já consolidada no panorama do Metal no nosso país. Este ano marcarão presença bandas como Brujeria, Enslaved, Filii Nigrantium Infernalium, Kronos, Urgehal, Saturnus, Mar de Grises, Nifelheim, Skyforger, Namek, entre muitos outros. Podem consultar o cartaz completo no respectivo site.

Vídeo promocional.

Para finalizar, quero dar também o merecido destaque ao Caos Emergente deste ano. O cartaz conta, entre outros, com nomes como Nile, Grave, Filii Nigrantium Infernalium (sim, mais uma vez, mas digo eu que nunca serão vezes demais, especialmente tendo em conta que estão aí com um novo trabalho quase a sair), Bizarra Locomotiva, Skyclad, Genocide, Belphegor... e Primordial. Inicialmente previstos para o Lagoa Burning Live, cancelaram lá e confirmaram presença no Caos. Só eles (a tocar malhas do último álbum, ainda por cima) já são suficientes para eu me arrastar a Paredes em Setembro, e Filii mais Bizarra Locomotiva também são nomes que merecem ser vistos. Daqui até lá ainda muita água passará por debaixo da ponte, mas se a minha estrelinha me sorrir, lá estarei a marcar presença e a descomprimir do stress provocado pelo regresso de férias, e quem sabe até a celebrar uma data especial.

Há por aí muitos mais eventos (de menor dimensão, é certo, mas nem por isso de menor esforço) dedicados ao Metal. Mas estes que referi reúnem, quanto a mim, a dimensão e ambição necessárias para que se destaquem no panorama geral. Fiquem atentos aos cartazes, pois até ao lavar dos cestos é vindima.

http://www.myspace.com/metalgdl

http://www.swr-fest.com/

http://www.caos-emergente.com/

http://www.lagoaburninglive.com/news.html

E para não saírem daqui de ouvidos a abanar, deixo-vos uma compilação com algumas das milhentas bandas que vão povoar estes festivais todos.

Parte 1; Parte 2

Pass: galaxiamusica.blogspot.com

Escolha da semana:

"Black Nº1", Type O Negative.



\m/

Etiquetas: , , ,




Página Inicial
Blogger ZePedro: Belos tempos! 25/04/08, 19:45  

Blogger Sea B. A.K.A. Timba: Devo de ir a três dos underground fests (lol?) que tu mencionaste (só não vou ao swr por causa das aulas e do porradão de dinheiro que tenho gasto em concertos, merch. e CDs este ano :)).

É bom ver que já não somos aquele pais que só as "grandes" bandas visitam e que começamos a ter alguma diversidade neste mesmo (já não é só concertos de Death e Black Metal), Esperemos é que o pessoal não faça o típico... Ir para a net criticar em vez de aparecer nos gigs e depois chorarem-se porque não há concertos de jeito em Portugal... 26/04/08, 14:47  

Blogger Lex: Pedro, não sei se percebi exactamente o que quiseste dizer com "lol?"... Geralmente quer dizer algo do género "isso é para rir?", julgo eu. :-P Sendo esse o caso, respondo que não, não é para rir. E passo a explicar... É que se os metaleiros 'natos' já podem achar que um LBL, por exemplo, já não pode ser considerado underground por ter lá nomes como Opeth ou Moonspell, temos que ver que para o público em geral - metaleiro ou não - esse fest continua a não ser tão mainstream como aqueles de que ouvem falar todos os dias como sejam o RiR ou o SBSR. Ora, como isto não é um blog só para metaleiros... Se era essa a dúvida, espero tê-la esclarecido. ;-) Se não era... olha, fiquei aqui a falar para o boneco, paciência. :-D

Underground ou não, o facto é que este ano - e apesar de não poder comparecer à maioria desses eventos por motivos de todo o género (ahh, saudades dos tempos em que tinha 3 meses de férias e flexibilidade de horários, pois se quisesse faltar à aulas, faltava e pronto)- estou muito feliz com a diversidade de oferta no nosso país. Acho que nunca se viu tanta coisa num só ano, e se uns podem considerar isso como algo negativo porque habituam mal o pessoal, ou porque os obriga a gastar muito dinheiro (e isto sim, é de rir :-D ), eu cá sou de opinião que isto só pode contribuir para colocar Portugal cada vez mais nas rotas do Metal internacional, de modo a que o facto de estarmos na pontinha da Europa deixe gradualmente de ser um obstáculo e pretexto para as tournées nos deixarem sistematicamente de fora. 27/04/08, 13:07  

Blogger Sea B. A.K.A. Timba: o "lol?" é simplesmente porque acho a expressão underground, mesmo o seu próprio conceito um bocado parvo 28/04/08, 11:33  

Blogger Lex: Ah, isso. :-D

Entendo perfeitamente. É um pouco como para mim os rótulos: males necessários se nos quisermos fazer entender por gente que não esteja tão por dentro do assunto. :-) 28/04/08, 14:59  

2007-2009 Galáxia Musica. Template elaborado e idealizado por Skywriter